9 de outubro de 2018

Turnos

Acordei triste.
Acordei devastada.
Acordei com medo, 
sabendo muito do mundo.

Acordei sabendo o que me espera,
o que espera a Terra,
o que espera os desesperados,
os desesperados de todos os lados.

Acordei em dor.
Uma dor que sinto fora de mim,
sinto no ar, nas nuvens densas, nas folhas que não balançam
na chuva que não lava 
e o chão não absorve.

Acordei na desesperança 
 e acordei de olho aberto.




(7 de outubro de 2018) (ele não) (havia esperança)

17 de agosto de 2018

Órbita

Há dias em que esqueço meu nome

há dias em que o mundo gira tanto, tanto
e eu esqueço tudo o que tinha anotado
tudo o que era certeza
e me deparo com a realidade.

Existe uma força muito forte
entre eu, você e saturno
e cada vez que termina a volta da terra em torno de si mesma,
me desespero em ter que encarar a lua e tudo que ela vem me dizer.
Mas quando termina a volta dela em torno do Sol,
sou bem vinda ao outro lado:
se eu quiser me manter na linha,
tenho que parar de prestar atenção.

Há dias em que não consigo lembrar meu nome
pois eu não paro de prestar atenção.




("Só se assusta com a mortalidade quem ainda nunca morreu")
("Tudo o que temos é o tempo")
(Uma vida, uma oportunidade)
(Concerto para violino de Sibelius)

16 de janeiro de 2018

Açúcar

Tudo docê é doce
tão doce que açucara
açucara quando apura.

Sob o céu de mil pinturas,
feito mel, dourada e pura
percorre com candura:
seja dia radiante,
seja noite a mais escura.

Aí sua, sem censura,
me fez maria-mole

(mole, mole)

e a mais firme rapadura.

Tudo docê é doce
tão doce que açucara
açucara enquanto cura.

Lucidez

Toma posse do teu corpo,
tudo é seu, nada é dele
e de dentro pra fora, tudo é.

Toma posse da sua mente:
tudo é dela, tudo é seu.
Afia, afina e não esquece
Se deixar, já esqueceu.

Deixa a água conduzir
e se já sabe, toma posse.
Menina,
sem escravo, não há capataz:
de tudo és capaz.