26 de junho de 2010

Quebra, cabeça

Ver triste assim água minha alma
Eu sinto o que vem daí
Minha vontade é te acalentar, te por em meu colo, inverter os papéis
Porque em mim doeria até sempre
Eu não suportaria como você suporta,
Não conseguiria ficar vendo isso chegar.

A vida é uma coisa estranha. O tempo mata, literalmente. E isso nos faz sofrer aos poucos. É complicado quando tudo muda, é complicado saber que tudo vai mudar. Não saber aonde tudo vai dar ou se não vai dar em nada. Quando eu ando eu observo a vida como se eu observasse o tempo. Andar com meus irmãos e meus pais traz a mesma sensação de uma manhã de sábado chuvosa, em que você pode ficar na cama coberto e quente por quanto tempo quiser. E nem é pela superlotação. É porque nesses momentos, o quebra-cabeça da minha alma está completo. O objetivo de minha vida é manter esse quebra-cabeça completo sempre. Mas as coisas vão mudando de lugar. E é perigoso não querer que elas mudem. É tudo tão perfeito do jeito que está, que qualquer mudança assusta. O quebra-cabeça vai mudando de imagem. As peças vão ficando menores, mais difíceis de encaixarem. Permanecer perto é uma necessidade perigosa. E cada vez mais difícil. Eu não quero ver ninguém ir embora. Não quero ver nenhum quebra-cabeça desmontado. Não quero perder nenhuma peça do meu. Fica e acalenta aquele de quem eu preciso tanto.

...transborda

Não tenho a criatividade que surge do nada, que inventa. 
Reproduzo, uma reprodução egoísta. 
Capto e exploro. 
Faço para mim, porque me faz bem. 
E porque me faz falta.

Sei onde me encontro,
sei onde me acho
só não sei onde reencontro
Onde reacho o riacho
que se esconde, se desvia

Quando dá sinal,
a trilha fica mais vivian viva,
mas a água não se amarra
Não se controla
E a flora só espera pela chuva
Pelo tempo de cheia
Que quando vem,
ah, aí quando vem...

19 de junho de 2010

Ando sobre as linhas tortas que eu mesma desenho para mim.
E ,

Deus!
como são tortas...

14 de junho de 2010

Bolo Prestígio - da Bicicleta

Ela era branca. Ganhei quando morava em São Paulo.
Não vou descrever a sensação que tive ao ganhar a primeira bicicleta, simplesmente por que não me lembro. Uma monarck, ou será que era caloy? Lembro que era branca e de rodinhas. A da irmã era roxa. Igualzinha, como tudo que tínhamos, só que roxa.

Engraçado essas coisas de irmãos... Me lembro bem que tudo era sempre igual, só mudava a cor. Os óculos de sol: meu rosa, dela amarelo. Os sapatos de "festa": meu rosa, dela branco. Os vestidos de festa junina, a blusa de lã, a jaqueta de couro. Às vezes nem a cor mudava. E eu me perguntando porque que achavam que éramos gêmeas. Com os irmãos foi a mesma coisa. A diferença é que dessa vez um era branco e o outro moreno.

Voltando à bicicleta. Não sei se foi de natal, ou de aniversário, de dia das crianças, não dá pra saber. É difícil distinguir as datas de presente de criança porque em casa, o presente ou era pra um ou era pra nenhum. No aniversário de um, todo mundo ganhava presente. Se vinha dinheiro tinha que dividir, verdade. Mas ganhamos a bicicleta. E tenho poucas lembranças dela.

Lembro que foi no Quinta das Oliveiras. Depois eu passei a chamar de Quinto dos Infernos. Mas na época eu gostava de morar lá. Tinha muita criança e, como todo lugar com muita criança, muita perversidade. Atropelaram no estacionamento a rodinha da minha bicicleta. E lá andava eu, de uma roda só. Bicicleta cambeta. Decidiram tirar as rodinhas da minha bicicleta.

Se para mim é difícil lembrar sensações, eu me lembro muito bem do medo que eu estava de andar nela sem rodinha. E da vergonha, porque era a única que ainda usava. Já tinham tirado as da bicicleta roxa... Mas e se eu caísse? Na frente de todo mundo? Nunca mais ia andar de bicicleta, jurava pra mim.

Sei que tiraram as rodinhas. Não foi nem o pai, nem a mãe. Os meninos do condomínio. Os mais legais disseram que iam me segurar, que eu não ia cair.

O resto foi igual o de todo mundo. Me seguraram por um tempo e, lá estava eu, toda confiante nos que me seguravam, tagarelando sem saber que era sozinha. Olhei pra trás, ninguém. Só lá no fundo. Lá bem atrás. E eu, sete anos, sobre minha bicicleta branca, sem rodinhas.

O primeiro voo a gente nunca esquece.

A bicicleta ficou pra trás, assim como o Quinto dos Infernos e os meninos do prédio. A última lembrança que tenho dela é guardada no quarto de entulhos de uma casa que morei por muito tempo. Minha ideia era mandar restaurar e fazer dela um quadro de parede, daqueles estilosos.

Perdeu-se a ideia. Ganhou-se uma história.

10 de junho de 2010

Bolo prestígio - De São Paulo

A impressão que tenho às vezes é que a vida se divide em capítulos. Os meus, por enquanto, seriam *: de São Paulo (subdivididos em 'Do Tia Terê', 'do Cetec', 'da Torta de Morango' e 'do rocambole'), da Bicicleta, do Bolo Prestígio, do Quinta das Oliveiras, da Padaria 3V, da chácara do vovô, do Sigma, do Mont Serrat, da 'fase difícil', do Olho Vivo, do Ensino Médio e da faculdade, capítulo em construção.

Pouco, na verdade acho que nada, lembro da minha vida goiana antes de morar em São Paulo. Sei o que me contam. E, para mim, toda narrativa é tendenciosa. Por mim mesma, não consigo lembrar nada, por mais que viaje nas memórias. Fui morar em São Paulo ainda era de colo, se não me engano. E é de lá que tenho minhas primeiras lembranças. Lembranças essas que às vezes não sei (e às vezes sei) se são realmente lembranças, ou se são aquelas imagens que nos ficam na cabeça de tanto ouvir falar.



Do Tia Terê

Tia Terê é o primeiro colégio que me lembro de ter frequentado, apesar de me dizerem que eu tinha estado em outro antes. Não me lembro. Lembro do tia Terê. Me vem na memória o primeiro dia de aula, em que tantas crianças choravam, querendo o pai, a mãe, o irmão, sei lá. Não me lembro de chorar. O que lembro é que observava as crianças chorando e simplesmente não entendia. O que provavelmente é uma das muitas falhas da minha memória, porque desde que me entendo (ah! que pretensão!), choro por tudo. Mas nesse dia me lembro apenas de ficar observando aquela aguaceira nos olhos alheios. Dos filhos e dos pais, óbvio.

Descobri depois de um tempo que praticamente todos os alunos dessa escola eram japoneses. Não percebi isso enquanto estudava lá. Acho que crianças não devem fazer essas distinções.

Lembro também do bauru e do suco de caju que levava na lancheira todos os dias. A lancheira era rosa, da Barbie, em forma de coração ( =O ). Recordo que ela ficou dentro do ônibus e minha mãe saiu correndo pra tentar buscar. Não conseguiu. E eu ganhei uma lancheira sem graça, branca, em forma de lancheira.

Do Cetec

Quando saí do Tia Terê, fui estudar no Cetec. Ia fazer o pré. Foi a primeira separação da minha vida (não foi tã dramático assim), porque minha irmã fazia a primeira série, e era em outro prédio, que ficava em frente. Ela amou a idéia.
Tinha um prédio enorme no Cetec, feito com aqueles materiais que a gente quando é criança acha que é de água. É o mesmo material com que é feito a Universal, que fica na Avenida Goiás, aqui em Goiânia. Meu sonho era entrar naquele prédio (no do Cetec, não na Universal!). Diziam que lá eram feitas as aulas de natação, esportes. O que eu queria mesmo saber como que a água se mantinha em forma de prédio.

Fiquei apenas meio ano no Cetec, acho. Me lembro que quando meus pais decidiram voltar pra Goiânia, e nisso eu já tinha mais dois irmãos, um dia fiquei até mais tarde na escola. Meu pai tinha se atrasado por algum motivo e quando vi, estávamos apenas eu e a professora. Eu contei pra ela que iria mudar de São Paulo. O problema é que eu disse que iria sair do país. Foi quando ela me fez descobrir que Goiás ficava dentro do Brasil.

Da torta de Morango

Na verdade, era bolo de morango. Nem sei se o bolo era de morango. Não me lembro do gosto. Sei que a cobertura era todo em uma creme rosa, e acho também que tinha uns fiapinhos de coco por cima, não sei. Mas era linda. Acho que era de padaria e sempre que eu ia comemorar aniversário na escola, lá estava o bolo de morango. Eu amava comemorar os aniversários na escola. Triste era quando o aniversário dava no fim de semana. Legal era quando dava na sexta feira!!!

Do rocambole

Acho que era de chocolate. A mamãe chegava em casa da padaria com pães e aquele rocambole. Até hoje me dá água na boca. Nunca consegui achar outro igual. Mas também tenho a suspeita de que paladar de criança deturpa tudo que não é verde e não é cebola, claro, para o lado positivo.



Acabo de descobrir que é muito difícil dividir a vida em capítulos, eles se mesclam muito. Chega um momento em que não é possível colocá-los em ordem cronológica. Em ordem de importância. Parece que a vida, depois que os bolos e rocamboles vão virando apenas lembranças, se torna feita de tópicos. São recortes, soltos de um momento que a gente sabe que existiu, mas que é impossível lembrar. É um momento ou outro. Soltos, recortados. Pouco nítidos. Só não podemos perdê-los.

Como ainda espero viver muito e sei que muitos recortes virão, preciso começar a relembrar os antigos, para que não se percam por aí, nas memórias e fotos que não são minhas.

Vida longa a mim. Que venham mais capítulos!

* Tentei, mas logo desisti, colocá-los em ordem cronológica. Impossível.