21 de dezembro de 2016

Uma estrela no céu

Esses dias pra trás eu vi uma estrela nascer.
 Vi o exato momento em que ela apareceu!

pulsando no meio de uma escuridão sem fim
nasceu na chuva compulsiva compulsória
com soluços e trovões que ressoavam no peito
despencando de nuvens olhos negras carregadas.

nasceu enfrentando um exército
levou pro inalcansável todas as despedidas
rompeu de mim sussurrando 
"adeus"

Todos os dias agora eu olho pra essa estrela no céu:
beirando as Três Marias, ela canta pra mim,
com voz de criança:
"esses dias pra trás eu vi uma estrela nascer,
vi o exato momento em que ela apareceu!
se aquecendo no fogo, se entregando de corpo
confiando na terra, morreu e viveu".


25 de novembro de 2016

Noite

Não costumo entender a noite.
Não enxergo o sol que reflete na lua,
ele some no horizonte e só resta 
sombra, medo e solidão.

Mas há noites quentes,
em que a lua inebria
o silêncio respira
o ar fresco arrepia

Normalmente eu anseio pelo dia,
menos em madrugadas nuas que justificam as manhãs tardias.

24 de novembro de 2016

Chama

Sou vontade de tudo e transbordo

Atrai-me o calor
do sol que queima
do hálito que embaça
da água que banha a pele e escorre
percorrendo ares, cores e vales,
tudo que é presenciável
tudo que é lacrimal

Não me interessa o frio
Calafrio que esquenta é que é convite.



6 de setembro de 2016

Pele

Nas árvores desfolhadas 
me percebo em pedaços
no peito amado
me desfaço em soluços
puros, certos, tensos, aliviados

Passo por momentos eternos
nunca vistos antes
onde nunca estive:
madrugada ébria,
me desvisto crua
pura, certa, tensa, aliviada

É um caos e me situo nua
sem coragem, crua e sua

onde nunca estive antes.




 

23 de agosto de 2016

Ateliê

Há dias me mandaram enxergar direito,
me disseram que era tudo culpa minha
e me mandaram abrir os olhos.
Mas disso eu já sabia.

Me disseram que era tudo culpa minha
e que eu segurava o que devia estar oferecendo.
E que na pele eu ia perceber o que acontece
quando não me passo dos limites.
E disso eu não sabia.

Me mostraram que eu ia me preencher
de tudo que eu botasse pra dentro.
E me questionaram se era daquilo mesmo
que eu queria ser contida.
E eu não fazia ideia.

Não fazia ideia das distrações
da amplitude delas
da importância delas
de como é fácil passar por uma noite,
de como uma noite é uma vida
e de como uma vida é só uma noite dilatada.

"Não há o que ser a não ser o que é"
De lá pra cá eu não parei de ouvir
E me disseram que o cansaço não existe,
porque o trabalho é infinito
e o amor é o tubérculo que dá a liga.
 
(para ler provavelmente ao som de: )
 
 

9 de agosto de 2016

Lavoura

"Não existe o que é bom 
não existe o que é ruim
não existem sequer as distrações.
Segura minha mão e fica comigo,
porque você já está lá
e é só o que há. 
Afina e mantém,
o resto é distração."

Muito de mim se perdeu e, ao contrário do que eu imaginava, só fiquei maior. 

(eu tinha tanto pra anotar 
e anotei tudo mentalmente. 
No final só conseguia lembrar 
que precisava de um bloco de notas)


20 de junho de 2016

Reinado

O que parece vir de fora para dentro
também vem de dentro para fora.


Sou do sol!
que ele reine sobre mim
Sou da lua.
há sempre sobrevida
Sou do sonho...
com calma, atinge-se o Universo. 



Depois que todos foram embora, 
fiquei só comigo mesma.
E nós somos tantas!


7 de junho de 2016

Sob clichês

Não há nada de novo sob o sol

aproveitar todo dia
ser feliz para sempre
não arrepender do que faz mas do que não faz
trabalhar pra viver, não viver pra trabalhar
eu desligo, não, você desliga
dinheiro não traz felicidade
mas também não tira
onde você pensa que vai
só acredito vendo
o final de todo mundo é o mesmo
o que interessa é como é que chega lá

Não há nada de novo sob a lua e há tempos não me sinto tão feliz.


(hoje eu acordei 5:30 e almocei um miojo. Os gatos tão dormindo aqui do lado e amanhã não tem aula.)

3 de junho de 2016

Duas semanas ou mais

Ê, essa vida...

Tanto caminho truncado, tanta árvore rosa,
tanto carro fervendo, tanto buraco e poça.

tanta batida sem culpa,
tanto minino cum fome,
tanta corrida sem freio,
tanta gente sem nome

tanto tempo apertado
tanto almoço perdido
tanto dinheiro emprestado desaforo escutado conta atrasada  ajuda bem dada página escrita
nota errada entrada atrasada arma apontada seta não dada  náusea controlada melodia cantada
uma pá de risada resultado obtido

Ufa!
Taaaanta coisa pra lá. Taaanta coisa pra cá.
Eu continuo intrigada,
cansada,
disposta.

Caminho tortuoso também é caminho.

6 de maio de 2016

Ciranda

De brincadeira, 
botei uma culpa que não existe em alguém que não se culpa.
E de cara me lembraram qual é o meu lugar:
tanto o que eu me orgulho de estar
quanto o que eu não suporto permanecer.


E, em qualquer deles, cheia de falhas,
tudo que alcanço é a próxima tentativa


até quando der ou até não dar mais?

De brincadeira,
essa vida não tem nada.

19 de janeiro de 2016

Fumaça

Uma vez eu perguntei pra velha por que é que tanta gente não me via:
"não é você que é invisível, fia,
essa gente é que é cega "

Outra vez quis eu saber por que que não aparecia um trem que eu
( achava )
queria:
"fia, tem canto pra ser feito só na bêra da fuguêra"

Daí eu percebi que tô sempre na bêra da corda, 
de tudo que é corda,
trastejando, bambeando, absorvendo:

posso sempre escolher dizer a verdade.