6 de dezembro de 2010

Tempo

O cabelo cresce.
Só porque o tempo passa é que o cabelo cresce.
Justo eu que achei que o meu nunca ia crescer.

25 de novembro de 2010

Cinco

Em cinco anos eu aprendi
que enxerga-se melhor com óculos
que é mais fácil ter o cabelo da cor natural
que mudamos,
de casas e de jeitos.

Que não se perde o gosto por banho de chuva
que vemos pessoas indo e vindo,
e que algumas ficam, mesmo que de outra forma.

Que o amor é parcial.
Que o amor é irracional.
Que não adianta querer por em prática todos os conselhos,
se não estiver dentro de você.

Que às vezes férias são necessárias.

Que café na cama ofusca todas discussões.
Que café fresquinho é sinal de cuidado, de que alguém está ali.
Que é possível ensinar você a cozinhar, mesmo que você não admita.

Que o medo existe e envenena por inocência.
Que o desespero gera as discussões mais doloridas,
e as pazes mais verdadeiras.
Que consigo ensinar coisas boas,
mas que no fundo de mim existe muito receio de mudança.

Que a música pode unir e separar.
Mas tudo pode unir e separar.

Que precisamos fazer escolhas.
Que descobrimos da maneira mais difícil o que realmente tem importância.
Que nos enganamos quanto ao que queremos.
Que a alegria excessiva começa a passar despercebida.
Que os defeitos são latentes quando os temos perto. Quando longe, não existem mais.
Que a responsabilidade é pesada.
Que é possível viver sem você, mas que eu não quero.

Aprendi a esperar. Literalmente

Aprendi a maneira mais gostosa de dormir.
E também a melhor forma de acordar.
Aprendi a ouvir coisas boas,
mas também a respeitar as ruins que apesar de ruins eu gosto.

Que a maioria das discussões são cheias de argumentos inúteis,
que não levam a nada e que ainda assim insistimos nela.
Sabendo disso tudo.
Que o amor é irracional.

Aprendi que cabelos crescem.
Os meus e os seus.

Que cruzamos as faixas mais importantes.

Em cinco anos aprendi que as pessoas mudam.
Que os sentimentos mutam.
E que o que é essencial prevalece.


(AVPSECTMA)

18 de novembro de 2010

Sobre a saudade

Eu sempre quis mergulhar de cabeça nas mais loucas experiências. Sempre quis provar o sabor de meter a cara no desconhecido, no improvável, no incerto. Descobrir e experimentar todo tipo de sentimento pra ver como eu me comporto em cada um deles. A dor mais forte me faria mesmo mais forte? Como eu suportaria tudo?

Imagino que esse seja o sentimento mais tolo que exista. Essas coisas vem até nós, nós não precisamos buscá-las. Na verdade o que a maioria faz é correr delas. Mas o desconhecido é sempre tentador e, para uma pessoa tão bem protegida quanto aos males do mundo que só teve um pequeno contato com o "dilaceramento" do coração, isso parece chamativo. Burrice, tolice. Não é chamativo de tentador, e sim a mesma sensação que um herói feliz com todas suas conquistas teria se ouvisse falar de um novo monstro: como será que eu suportaria esse?
Saí de Goiânia com querendo entender como suportaria isso, como lidaria com essa nova realidade? Encontrei paz e equilíbrio no lugar novo. Encontrei uma liberdade que eu nunca tinha experimentado, apesar de nunca ter sido realmente dependente. Encontrei situações novas e problemas novos a serem resolvidos. Novos e em outra língua. Encontrei uma força que eu não sabia que tinha, que ia contra toda a "fraqueza" que eu sempre pensei de mim. Encontrei nos primeiros dias um pouco da agonia que alimentou o tal sentimento tão tolo. Encontrei a falta.

A falta do abraço do Lucca, do olhar puro e sem malícia, das reclamações tão sentidas e tão pertinentes aos 11 anos. A falta do abraço do Victor, do som eufórico da sua voz que curiosamente o seu violão repete, das explosões tão normais e tão preocupantes dos 17 anos. Falta do abraço do Vinicius e do beijo na bochecha, porque esse sempre acompanha o beijo na bochecha, da voz doce e aveludada, do sorriso puro e sem malícia que acompanha os olhos também, de (tentar) apaziguar as revoltas tão frequentes, até justificáveis, mas tão perigosas dos 16 anos. Falta da Aymê, do seu jeito eterno de criança, que ainda não sei se é algo perigoso ou uma qualidade incomum. Falta das gargalhadas da Ana, presentes em quase todas as conversas, tão independente da vontade dela mesma, das angústias tão constantes e tão doloridas, ainda mais agudas em uma formanda. Falta dos palavrões desculpados do boto, desnecessariamente, e dos momentos estragando grana, tão normais em qualquer idade. Falta do abraço do meu pai, e do seu olhar questionador, nos momentos em que para e fica me observando como se estivesse procurando algo dentro de mim, do seu abraço sempre cheiroso e carinhoso, com a barba por fazer provocando cócegas nos filhos; de encontrar seu carro esperando por mim depois que desço as escadas do prédio, falta do beijo de boa noite. Falta da minha mãe, do seu sorriso inocente e sapeca, das suas preocupações exageradas, do cafézinho fresco com bauru assim que acordo, da sua mão carinhosa no meu rosto que as vezes também parece procurar a menininha que ela viu crescer e que ela ajudou tão bem a proteger. Falta de ouvir suas orações de madrugada. Falta da Tatá, a quem eu aprendi a amar, não como uma tarefa, mas como cultivo de um sentimento que sabemos que só vai nos trazer alegrias.

Falta da Lílian. Da minha irmã de corpo e alma. Que eu escolhi e que eu deixei que passasse na minha frente pra nascer primeiro porque ela pediu, porque queria ser meu anjo mais velho. Porque ela sabe que eu faço tudo o que ela pedir pra mim, desde sempre, como deixá-la ir na faculdade com o papai no meu lugar ou no MC Donald's quando era minha vez. Ou cortar meu cabelo, que mal existia. Ela que sabe que eu vou reclamar o máximo que puder quando ela me pedir emprestada uma roupa nova que eu ainda não usei, mas que depois de tudo vou emprestar. Ela, a quem eu sempre tive tanta necessidade de me provar e tanta vontade de ser igual, porque tudo que vem dela exerce influência extrema em mim. E nós sabemos porque. Falta de chegar em casa e encontrá-la no computador ou tomando conta do sofá, e só de ver que estava ali eu me alegrava sem nem perceber.

Se alguém quiser saber quem eu sou, pergunte a essas pessoas. Elas podem lhes responder melhor do que eu. Elas têm em relação a mim uma visão completamente parcial, mas sem veneno.

E se alguém quiser saber quem são essas pessoas, mesmo que conheçam, perguntem a mim. Porque eu tenho uma visão completamente romântica, foi assim que elas me formaram. E cada um tem sua parcela de culpa no meu excesso de sentimentalismo. Pergunte a mim, porque eu posso dizer coisas que elas mesmas ignoram, coisas que só são vistas de fora. De longe. E às vezes de muito longe.

Estou aprendendo a controlar a saudade. Estou observando vocês de longe. Mas meu coração está aí e eu continuo compartilhando seus sentimentos. E talvez eu não possa fazer nada por eles, mas eu sou parte deles e talvez isso baste (ou pelo menos ajude) para consertar  o que está quebrado.

21 de outubro de 2010

Anatomia



Adoro sentir meu coração querendo pular fora do peito.
Essa sensação que acontece quando vamos falar em público, apresentar uma peça, cantar uma música, sei lá.
Aliada daquela vontade louca de vomitar tudo o que não comeu pelo nervosismo. É bizarro. E tão bom. Parece que o peito realmente vai se rasgar, e o coração simplesmente vai sair por aí quicando.
É a prova mais fácil de sentir vida. O coração batendo forte, dá pra senti-lo na têmpora, nos pulsos, no pescoço. A cabeça fica zonza com a aceleração do sangue, as mãos começam a tremer.
Gostaria de conseguir sentir tão facilmente cada pedaço do meu corpo. Sentir de verdade, querendo sair fora.
O que será o coração? Será que é a alma que de alguma forma precisa se alojar? Será que é a vida, se mostrando presente? Será que é o amor, que vai se acumulando dentro do nosso corpo tão desconhecido e vai tomando forma?
Ainda quero poder sentir o sangue correndo pelas veias, o ar preenchendo os pulmões, saindo pelos poros e ressoando nos ossos, construindo os harmônicos mais perfeitos. Quero sentir as lágrimas subindo aos olhos, as cordas vocais vibrando. Só podemos ter sensações. Idéias mínimas.
O corpo é palco da alma. Que ela atue em cada célula que tenho.

(Texto antigo, que encontrei perdido aqui nos meus rascunhos... Normalmente esses são os que eu não gosto... Hoje eu gostei dele e achei que deveria postar.)

12 de outubro de 2010

Paciente

Paciência.
Paciência.
Paciência.
...

6 de outubro de 2010

Sobre a Alemanha

Pessoas do meu coração saudoso,

A viagem para Alemanha foi indefinível. É muito engraçado ver tantas coisas novas e diferentes e essas coisas que a gente só vê em livros aí no Brasil. As pessoas daqui não ficam tão impressionadas quanto nós, porque por mais que estejam em um país diferente, continuam no "velho mundo". Quando eu conto que minha cidade tem apenas 70 anos todos ficam impressionados... E enfim, o itinerário foi Munique, para conhecer a tão famosa Oktober Fest e depois Berlim. Fomos pegos de surpresa em várias situações, a primeira real experiência louca aqui.

Fomos em cinco, dois casais brasileiros e uma paraguaia. Existe um ticket na Áustria em que um grupo de 5 pessoas paga apenas 28 euros juntos para viajar todo o dia para qualquer lugar do país. Ou seja, cada um paga 5,60. Dessa maneira, nossa viagem ficaria muito mais barata, porque comprariamos esse ticket para ir até Salzburg, na Áustria, depois cruzaríamos a fronteira e compraríamos um ticket equivalente na Alemanha, que custava 37 euros e valia para todo o fim de semana. No final das contas saíria a ida até Munique por pouco mais de 15 euros e depois para Berlim por 7euros. O problema é que os trens que pegaríamos não iriam direto e demorariamos muito tempo a mais pra chegar até o destino final. Mas o trem direto sairia muito mais caro, então decidimos encarar o "pinga pinga" mesmo. 

Porém, quando estávamos ainda na estação de Graz, indo para Salzburg com um itinerário que demoraria 3 horas a mais que o normal, conhecemos o fiscal do trem, que validava os tickets, porém sem saber que ele era fiscal. Ele nos deu algumas informações e um pouco depois, quando já estavamos instalados, ele perguntou se poderia sentar-se perto de nós. O rapaz estudava espanhol e ficou muito feliz de poder treinar o idioma com nossa amiga paraguaia. Alguns minutos depois ele entrou em uma cabine e voltou nos dizendo que poderíamos pegar o trem que iria direto a Salzburg,fazendo com que economizássemos 3 horas de viagem e muitos euros. A única condição é que deveriamos sentar nos ultimos 5 vagões do trem, pois era onde certa amiga dele fiscalizava o ticket. Se fossemos pegos por outro fiscal, estaríamos meio enrascados. E lá fomos nós, pegar o trem direto. Quando já estavamos dentro dele que caiu a ficha da loucura que estavamos fazendo e deu medo de sermos chutados pra fora do tal trem. Mas com sorte tudo foi tranquilo e tudo que o rapaz havia dito era verdade. Assim, chegamos em salzburg 3 horas antes do planejado.

Mas isso não adiantou tanto assim as coisas, pois chegamos na cidade da fronteira pouco depois e tivemos que esperar por mais ou menos 5 horas, de madrugada, até o trem que seguiria pigando novamente para Munique. Conseguimos enfim chegar até Munique por volta das 7 da manhã.

Após algumas informações, fomos para a Oktober Fest.Estava chovendo e fazia muito frio. Estava bem cedo, então coseguiriamos entrar em alguma tenda. Eu já estava dentro de uma quando percebi que um dos nossos amigos fora barrado pelo fato de sua mochila ser muito grande. Então tivemos todos que voltar até a estação para encontrar um guarda-volume, onde deixamos as nossas mochilas. Quando voltamos novamente, não havia mais como entrar em nenhuma tenda. Tivemos que ficar andando pelas ruas da festa. Mais ou menos ao meio dia a chuva deu uma tregua e conseguimo um local bem estratégico, externo a tenda, EMBAIXO DE UM AQUECEDOR! Perfeito. Ficamos lá até termos que ir buscar as coisas no guarda-volumes. Voltamos de novo para a festa depois, mas já estvamos de saco cheio, pois as pessoas já estavam bebadas demais, algumas brigando e esbarrando muito, e a chuva voltou a incomodar. Decidimos ir embora por volta das 16 horas, embora nosso trem para Berlim saísse apenas as 20, acho.

Enfim, chegamos em Berlim por volta do meio dia do domingo e fomos direto para o hostel, todos loucos por um banho. No meio da viagem tivemos que ficar 5 horas em uma estação que não tinha absolutamente nada, numa cidade que devia ter 20 habitantes. O hostel era muito bom e foi bem barato, 13 euros por dia com café da manhã incluso. Tomamos banho, nos arrumamos e fomos direto para conhecer a cidade. Visitamos muitas coisas.

A primeira visita foi o muro de Berlim. Algo impressionante de se ver. Imaginar todas as coisas que ja se passaram por aquele lugar, toda a memória de filmes e livros vem a cabeça. Andar pela linha onde era o muro, ver hoje a cidade como é, tudo muito impressionante. A cidade estava extremamente fria, o pior frio que peguei até hoje por aqui. Fomos ainda ao museu de història da Alemanha, museu judaico, universidade Humbold, onde estudaram Marx, Einstein e os irmãos Grim, a catedral, as ruas e praças históricas, uma loja da Mercedes. O Portão de Brandemburgo e o Parlamento foram espetaculares, mesmo não podendo entrar no Parlamento, pq a fila estava muito grande. Mas o portão é algo impressionante de se ver, sentir, observar, não sei. Existem sensações inexplicáveis. 

No penúltimo dia visitamos o campo de concentraçao de Berlim. Foi a visita mais pesada. Não conseguia me sentir bem naquele lugar e não é pra querer fingir sensibilidade que digo isso. É uma visita que todas as pessoas devem fazer, é importante conhecer. Mas é preciso ter em mente que não é algo agradável, não é aquela visita que vc conta para as pessoas dizendo "OOOH, visitei o campo de concentração!". A atmosfera é diferente, talvez pelo pressuposto que já temos sobre tudo o que aconteceu e como as pessoas sofreram ali. E parece que nesse dia estava mais frio ainda, acredito que chegamos aos 5 graus, e ventava muito, o dia estava cinza e tinham muitos corvos voando pelo local. Era algo realmente sinistro e de escrever sobre isso eu já sinto o desconforto que senti lá, então vamos mudar de assunto.

Ficamos um dia a mais em Berlim, porque a melhor volta para Graz era na quarta feira as 14 horas, chegando em Graz na quinta as 19. Sim, muito tempo de viagem, mas o trem direto custaria mais de 80 euros e dessa maneira sairia por 28. Na quarta feira nos separamos. O Vinicius foi ao museu de instrumentos musicais, onde estava tendo uma exposição de guitarras e eu fui com os outros a um castelo que queriamos conhecer. No museu, o Vinicus pegou a rabeira de uma excursão de criancinhas, onde ele pode ver o guia do museu tocando quase todos os instrumentos. Muito legal. O castelo era esplendido, mesmo sem visitarmos o interior, pq não daria tempo de chegar na estação a tempo. Então visitamos só o jardim. Era um jardim fenomenal, onde havia  até cisnes, que por sinal quase nos atacaram. Haviam várias plumas no chão e nós decidimos pegar uma, mas as maiores e mais bonitas estavam perto dos animais (um casal de cisnes). É óbvio que não chegamos muito perto, mas já os estavamos olhando a varios minutos e eles não demonstravam nenhum incomodo. Uma das meninas arriscou chegar mais perto e eu vi quando os olhos do animal encontraram os meus. "Isso vai dar me***" Foi aí que o bicho soltou um grasnado, esticou aquele pescoço de borracha e abriu as asas. Disparamos a correr, todos morrendo de medo. Depois começamos a rir igual bobos e ainda perdi minha pena na viagem de volta...

Enfim, pegamos o trem de volta e tivemos que esperar por quase 8 horas na estação de Munique. Não compensava procurar um hostel pq a cidade estava lotada, devido a Oktober Fest. Só pensavamos em voltar para casa, o aconchego do conhecido, visto que o deslumbre pelo novo já estava se apagando. 

No final das contas, Berlim é uma cidade impressionante, mas acho dificil pensar que me adaptaria lá. Talvez pq a impressão mais forte que guardei foi a do campo de concentração, e esse sentimento de certa forma me impregnou. Mas um lugar meio cinza demais, duro demais, meio que tudo aquilo que nós aí pensamos dos alemães, apesar dos alemães em si serem muito solícitos. Descobri com essa viagem que Graz é uma cidade maravilhosa. Não, não errei, é de Graz mesmo que falei. Aqui não há medo de andar nas ruas, não há tantos resquícios de guerras e torturas. Descobri ainda que tudo é muito mais impressionante quando se está de fora. Nao sei se todos conseguirão me entender, mas estar aqui é, de certa forma, como estar em qualquer outro lugar. Lógico que tudo é relativamente diferente, mas não há tanto deslumbre quando você está dentro da história. De fora sempre parece mais legal. Além do mais, tudo sem vocês parece vazio. Não é tristeza, nem depressão, não se preocupem. Mas é um vazio inevitável, pq vcs simplesmente não estão aqui. Parece que sempre está faltando alguma coisa em todo lugar que eu vou. Os amigos novos são adoráveis, as pessoas da cidade são muito amáveis, mas não são vocês. Não há  a solidez que há com vocês, não ainda. Durante todo o tempo sentirei muita falta de todos, mas estou conseguindo lidar (é assim que escreve, pai?) com isso de uma maneira bem razoável. Estou seguindo todos os conselhos, acreditem. Prometo tentar cumprir todas as promessas. É estranho, mas posso sentir isso e aquilo mudando em mim, posso sentir que estou crescendo e prometo levar tudo que for bom. Estou com medo do inverno, de verdade. As vezes quero os 38 graus que vocês andam praguejando. Mas só as vezes. =)

Vocês são meu círculo quente, meu porto seguro. Só pq sei que vcs estão aí que eu posso ficar um pouquinho aqui.

Desculpe pela prolongação excessiva. Amo todos.

Vivi

23 de setembro de 2010

Adaptação

Água fria
gelada
morna

Desculpe-me se penso demais
Pelo menos sou água,
me adequo
me adapto

Mostre-me que é tão água quanto eu.

11 de setembro de 2010

Áustria - sobre tudo inicialmente

Tenho pensado muito em como escrever tudo o que tenho vivido e olha que nunca me foi dificil colocar a vida em palavras. Mas talvez as últimas experiências tenham sido tão intensas que até as palavras tem me faltado. São experiências daquelas de ficar engasgado, com os olhos marejados, sem saber sequer o que pensar.
Não tenho sabido muito bem o que pensar. Tenho feito como nos comerciais de refrigerante: vivido a vida intensamente. Acho. Devíamos fazer isso sempre.

Mas vamos tentar ser mais diretos. Graz é uma cidade linda. Talvez porque seja e primeiro contato real com um lugar tão antigo. Goiânia tem apenas 70 anos! Então ainda me encanto com esses castelos ao meu redor,os bancos situados em locais que há séculos atrás deviam ser mansões dos duques, duquesas, barões e outros níveis quaisquer. Me encanto com poder beber água da torneira, com ver as pessoas enchendo as garrafinhas de água nas fontes das praças. Me encanto com a biblioteca itinerante que coloca imensos pufes no meio das praças pra você deitar e ler o que quiser.

Do meu quarto eu posso ver o Schlossberg. É a paixão do pessoal da cidade, o símbolo da luta, da conquista. O que eu entendi a guia dizendo foi que, em alguma das muitas guerras européias, soldados franceses invadiram o Schlossberg e o estavam explodindo por dentro. Mas o castelo é tão grande e tão peculiarmente construído que tinha que ser explodido pouco de cada vez. E enquanto tentavam explodi-lo, o pessoal da cidade juntava dinheiro. Ate que conseguiram uma quantia
suficiente para convencer os soldados a deixarem o castelo. Não sei se foi exatamente isso, mas se não foi, criei uma bonita história.

Tudo aqui fazemos a pé. Andei de ônibus vez ou outra, mas tudo é tão perto que vai a pé mesmo. Para a faculdade, para os cafés, para os pontos turísticos, parques. Quase todo mundo tem uma bicicleta e existem ciclovias em todos os lugares. As bicicletas respeitam os semáforos e as faixas de pedestres. Aliás, há semáforos para pedestres, que precisam ser respeitados. Ninguem atravessa se o sinal não estiver verde, mesmo que não haja um carro sequer vindo.

Sobre as comidas


Estranho, mas em duas semanas ainda não consegui descobrir o que as pessoas aqui almoçam. Porque não é possível que a cidade passe todos os dias com sanduíche de carne empanada. Todo tipo de carne empanada:peru, porco, frango, peixe. E um sanduíche realmente grande.
Por isso, não há um dia sequer que eu não agradeça as vezes em que fiquei no pé do fogão vendo mamãe cozinhar e peguei um jeitinho ou outro. Obrigado mãe! Eu te amo.

Do que eu estou realmente sentindo falta? Feijão e sucos de verdade.Cheguei ao extremo do meu suco preferido ser o de laranja, de caixinha. Claro que é de caixinha. Até carne moída vem em caixinha. Mas laranja em caixinha é o que eu dizia detestar. Bem feito, sempre me ensinaram a não detestar nada.

E haja batatas! Praticamente todo prato em todo restaurante acompanha batatas e dois quilos de batata prontas pra fritar no supermercado custa 1,20 euro. Na verdade, não é caro comer aqui. Algumas coisas saem bem mais baratas que no Brasil, como o próprio arroz (que vem em caixinha) e o quilo custa 0,89 euro. Frutas e verduras são a mesma coisa (sim, estamos no mesmo planeta), só falta uma coisa ou outra e acrescenta-se mais uma ou outra diferente.

Sobre o alemão

Ninguém se preocupe, já aprendi as quatro palavras mais importantes: 'Ohne Zwiebel' e 'Leitung Wasser'. E 'bitte', claro. Sempre. 'Bitte' serve pra tudo. Não sabe o que dizer diga 'bitte'. Ohne Zwibel é importante sempre que vou comer fora e 'Leitung Wasser' para acompanhar a comida, opção realmente interessante e normalmente não cobrada.

Entre outras experiências, tentei pagar uma conta falando em português com a moça do caixa. Me pego falando em inglês com os brasileiros ( e sendo respondida em português!) E tive que me virar em alemão com uma vendedora chinesa porque as botas dela estavam realmente baratas.

Sobre as pessoas

Ok. Ninguém me catou para um abraço no meio da rua ainda. Mas os austríacos são realmente muito simpáticos e dispostos a ajudar. E fale com eles em alemão que ganha um sorriso a mais. Eles sorriem muito. Sim, ainda estamos no mesmo planeta.
Na faculdade então, a simpatia se multiplica.

Além disso, nunca tinha visto antes tantas pessoas de tantos lugares. Chineses, brasileiros, sérvios, finlandeses, espanhóis, egípcios, gregos, tchecos, lituânios, tudo numa coisa só. Se bobear, há mais estrangeiros que austríacos em Graz.

Ah, fale em alemão com os nativos que você até ganha um doce no ponto de ônibus. Experiência alheia.

Sobre os preços

Comer pode ser barato.
Roupas podem ser baratas. Com sorte.
Calçados podem ser baratos. Procurando.
Kebaps (sanduíche meio turco) são baratos.
Morar é caro.

Sobre a saudade

Ok. Próximo post ou ninguém lerá esse texto até o fim. Se é que alguém está lendo essa frase.

30 de agosto de 2010

E se nascessemos sabendo viver?

(Para quem tiver tempo e paciência.)

Ah, se nós nascessemos sabendo viver... Faríamos tantas coisas diferentes.

Somos tão pequenos diante de tudo. Pequenos, não insignificantes. E erramos tanto.

Milan Kundera diz na Insustentável Leveza do Ser "Como pode a vida ser bem vivida se o rascunho da vida é a própria vida?" Se tivéssemos tempo de ver a vida, como um rascunho e voltar concertando aqui e ali, desfazendo isso e aquilo, os medianos oitenta anos significariam mais.

Se nascessemos sabendo viver, provavelmente esvaziaríamos com um intervalo de tempo regular as nossas gavetas e guarda-roupas e os quartinhos de entulho. Nos desfaríamos daquilo que nao serve pra mais nada em nós, fazendo outras pessoas felizes. E abrindo espaço. Dentro e fora de nós. Porque, afinal, o que é isso que vivemos senão reflexo do que está na nossa mente? É necessário tirar o entulho, preencher com o que tem importância.

Se nascessemos sabendo viver, faríamos como naquela música: nos importaríamos menos com problemas pequenos, aceitaríamos as pessoas como elas são, acordaríamos mais cedo pra ver o sol nascer, sairíamos mais pra fora de casa pra ver o sol se por. Hoje eu acordei pensando nessa música. E uma coisa me deixou triste, nao sei se foi exatamente esse meu sentimento: o nome da música é epitáfio. E é triste pensar que só nos damos conta disso quando a vida já está no fim. Se nascessemos sabendo viver, nos daríamos conta disso antes de aprender a andar.

Seríamos mais delicados com as pessoas, com todas elas. Teríamos menos implicâncias. Superaríamos os defeitos tão mínimos dos outros, que irritam-nos tão fortemente apenas porque somos ignorantes quanto ao que é viver.

Se nascessemos sabendo viver, aos nossos catorze anos daríamos mais valor aos nossos pais e irmãos muito mais do que damos aos nossos coleguinhas, namoradinhos, ídolos da televisão. A sorte é que há tempo de vida sficiente para nós para percebermos isso e correr atrás de demonstrar o valor que não demos. O duro deve ser quando o tempo passa na frente.

Se nascessemos sabendo viver nos alimentaríamos bem por conta própria para não ter que nos privar de tudo depois. Escolheríamos desde o primeiro momento aquele trabalho que nos fizesse feliz e daí não trabalharíamos nunca. Só trabalharíamos para nós. Mas esse já é um terrenos muito complicado da nossa existencia que eu acho que ainda preciso viver muito pra conseguir entender. Porque o trabalho só me é justificável como justificativa para o futuro, mas o futuro é tão incerto que fica difícil pensar sobre isso. Mas acho, e nesse caso só acho, que se nascessemos sabendo viver, talvez o motivo da vida fosse mais o presente do que o futuro. E aí trabalharíamos no almoço pra viajar na hora da janta. Mas e o futuro? Meu futuro talvez responderá.

Seríamos menos egoístas. Trabalhariamos de voluntários em alguma coisa que fosse ajudar a melhorar alguma coisa. Acumularíamos menos.

Talvez se todas as pessoas que já viveram pudessem voltar no tempo e refazer algumas coisas, elas talvez derrubariam menos árvores, gastariam menos água, jogariam menos plástico nos rios, menos lixo na rua. Não deixariam a tarefa de recuperar tudo de uma vez para alguns de nós.

Se nascessemos sabendo viver, abraçaríamos mais os mais próximos de nós. Seríamos cordiais e simpáticos com aqueles que estão conosco todos os dias como somos com os convidados de uma festa. Não seríamos indelicados com o pai, nem com a mãe. Não por medo, ou respeito. Por educação mesmo, e amor. Se nascessemos sabendo viver, talvez teriamos desde o início o amor que nossos pais tem para conosco com os outros e viveríamos muito mais intensamente.

Ah, se nos fosse permitido fazer o tal rascunho da vida. Ah, se aprendessemos a aprender com os erros dos outros, talvez a vida não precisasse ser a melhor escola por ser a mais rígida.
Muitas horas dos vinte anos que tenho ( e dias e meses são formados por horas) joguei fora com raiva, apego a inutilidades, contemplação dos defeitos, lamentação sobre o leite derramado.

Porém, sou uma otimista convicta em uma época em que o mais legal é ser pessimista ao extremo. Acredito no melhor das pessoas e no melhor da vida e quero a partir daqui viver a música epitáfio antes que eu tenha que me preocupar com o meu. E quando vejo as pessoas desperdiçando o tempo,se são próximas tenho vontade de sacudi-las para que vivam mais. Já que não temos o rascunho do Kundera, o melhor é fazer o melhor esboço possível, como nas frases clichê das blusas de 8ª série.

Esse texto não tem mesmo nada de novo. E nem pretende ter. É completamente e desde o início repleto de clichês. Mas se a vida é uma repetição com perspectiva de melhora, o que é ela própria a não ser um clichê? Como tudo que de mais belo que há nela: o amor, a amizade, os momentos bonitos e as recordações emocionantes. Tudo clichê. Nada novo.

Talvez a vida seja a mesma coisa contada de várias formas diferentes.

Se nascessemos sabendo viver, viveríamos muito mais. Por que, afinal, de que interessam as outras coisas se temos uns aos outros?

16 de agosto de 2010

Bolo Prestígio - do Bolo Prestígio

Festa de aniversário na minha casa é sinônimo de bolo prestígio.

Desculpem-me os de brigadeiro, abacaxi, coco, pêssego, morango e suas respectivas cozinheiras. Vocês são maravilhosos nos aniversários alheios. Mas meu aniversário não o é sem bolo prestígio.

Aquele da massa feita em casa, batendo a clara separadamente pra deixar o bolo mais airado. Essa que quando eu era pequena a mamãe ainda batia no garfo, e depois que a massa ficava pronta a briga era pela colher de pau e a panela. Aquele do qual o coco escorre de dentro e a cobertura é cremosa e quase negra, sem dó de chocolate.

Desde que não me entendo por gente, o bolo prestígio é louvado lá em casa. E não adianta outra pessoa fazer, tem que ser o da mãe. Ninguém nunca conseguiu explicar e ninguém nunca conseguiu fazer igual. Não é o bolo mais bonito, mas é, sempre será, nunca deixará de ser, será eternamente e eternamente será o bolo mais gostoso. As vezes, desnecessariamente, tenta-se aperfeiçoá-lo ainda mais, seja com granulado colorido,  confeitos de bolinha, M&M's, bis, raspas de chocolate, estrelinhas e o diabo a quatro em confeitos de supermercado. Inútil e desnecessário. É como tentar aperfeiçoar a  beleza de Afrodite. O Bolo Prestígio reina  de véspera.

Lembro-me que já levei pra escola inúmeras vezes e vi crianças se estapearem. As professoras, sempre em regime, diziam que iam  levar pra moça da cantina mas eu juro que sempre ralhavam comigo na cantina por eu não ter reservado um pedaço. E era impossível que, em casa, depois do parabéns, sobrasse uma migalhinha que fosse pro cachorro. Deve ter sido por isso que a Serena, uma fila que viveu conosco muitos anos, aproveitou-se uma vez de uma bobeada e virou a obra-prima prontinha, linda, perfeita no chão com uma patada. Ficou tudo pra ela. Cadela.

Dessa última vez, a mamãe fez um no dia do aniversário mesmo e um no dia da festinha, que foi dois dias depois. O primeiro estava deslumbrante. O segundo eu esqueci de levar pra festa.

Sim, eu esqueci de levar o bolo pra festa.

Eu queria voltar pra buscar, mas não quiseram me trazer. Não podem se queixar. Eu queria.

Agora, dá licença, deu uma fominha e eu vou pegar um pedacinho ali na geladeira, do bolo que, despropositamente, juro, eu esqueci de levar pra festa.

Bem feito


A culpa é toda minha.
E meu castigo é esse.
Bem feito pelo seu mal feito!
Não te ensinaram a não mexer no que não é seu?

Cada um no seu lugar, menina!
Maçã é maçã,
mas nela há casca, polpa, semente e talo.

A culpa é toda sua!
Bem feito pelo seu mal feito!

Agora guarda e digere,
se conseguirdes,
a fruta que desenterrastes.

11 de agosto de 2010

Bolo Prestígio - da Bicicleta 2

Esses dias atrás descobri o que foi feito daquelas bicicletas de quando eu e meus irmãos éramos crianças. Aquelas das quais escrevi a pouco tempo.

Certo dia, vésperas de natal, meu pai ia dirigindo sua kombi super adequada para um homem com seis filhos para sua casa, lá pros rumos de Hidrolândia. No meio da estrada vinha vindo uma família, uma mulher com não sei exatamente quantas crianças. Iam a pé, pelo acostamento da rodovia, um espetáculo de perigo nada incomum naquela região. E em muitas outras, admitamos.

Mas não irei me desviar por muito mais tempo. Assim como meu pai não desviou a atenção daquela família que se desviava dos carros e caminhões. Nesse dia, as duas bicicletas estavam no porta-malas da kombi e tinham acabado de serem restauradas. Meu irmão mais novo ainda era bem pequeno e provavelmente iria se divertir com pelo menos uma delas. Mas aquelas crianças da estrada iriam se deslumbrar com certeza muito mais.

Parou-se a kombi, desceram as bicicletas. Pode ser que tenha sido o primeiro presente de natal deslumbrante para as crianças. E para a mãe, porque o que nossos pais dizem é que não há alegria maior que ver um filho feliz.

Lembro-me que a minha idéia era a de restaurá-la e transformá-la em um quadro daqueles estilosos. Que disparate! Bicicletas não foram feitas para ficarem na parede e sim para dar vida aos sonhos da infância e nos darem nossos primeiros vôos.

A invenção de meu pai foi muito mais feliz!

("Um rei me disse que quem deixa ir tem pra sempre.")

10 de agosto de 2010

Vindo de fora!

(Dessa vez o post é diferente. Não são poemas meus, mas sim de uma pessoa muito próxima de mim e a quem eu amo muito. Um deles foi feito quando essa pessoa tinha cerca de doze anos, acho, e o outro foi feito recentemente, demonstrando que sim, todo mundo sofre um dia pelo amor de alguém.Ou pela falta dele. E a dor realmente traz inspiração. Seria perfeito se a inspiração viesse na alegria com a mesma constância que vem na tristeza.)

Segredos dos Contos de Fadas

As fadas estão em contos sem razão
que para as donzelas traz a solução
e  a ogros e feras dá apenas a prisão.

Que retiras de florestas as mais terríveis tragédias
Que de uma agulha tira um coma profundo
Para uma linda princesa
Tira uma bondosa fera
Que dá uma escrava a sete homenzinhos
Transforma em dragões passarinhos.

Contos superficialmente de fadas
Por trás disso existem verdades esmagadas.

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Desencanto

Chegou até a pedir a morte
o pobre príncipe, agora desencantado.
Sabia ele que mais uma flecha,
azul e vermelha,
seria seu fim.

Largou então a espada por hora,
e com uma pena grande
escreveu sua morte
Que não foi por flecha e sim por corte.

Conseguiu então caminhar tranquilo,
escondendo distante,
seu antigo e sofrido ex-comandante.

Quem sabe se um dia
chegará a mandante
que libertará seu ex-comandante.

29 de julho de 2010

Descartável (Pout porri poético)

Recebo gotas e gotas de inspiração.
Junto tudo e tento que dê um copo.
Consigo no máximo um daqueles de pinga. Ou uma xícara de café.
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Oh! Que triste.
Descobri que vivemos apenas fases, sempre iguais.
É uma afronta a minha originalidade,
da qual eu nunca tive muita certeza
e
agora duvido ainda mais.

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Que cheiro o hoje terá amanhã?

26 de julho de 2010

De que interessam as outras coisas se temos uns aos outros?

Egoísmo não.
Se cada um amasse assim intrinsecamente os seus, o

                                                           só
                                           círculo                 um
                                                         seria

21 de julho de 2010

Entrelivros (7)

" Como é bom deixar uma marca na superfície branca. Fazer um mapa dos meus passos, mesmo que seja temporário."

(Retalhos, Craig Thompson, uma graphic novel que vale muito a pena!)

14 de julho de 2010

Lembrete


Para quando eu começar meu dia de mau humor:

Nós podemos rir, chorar ou ter raiva de tudo. Só depende de qual sintonia nos ligamos cada dia. O bom humor, a tristeza e a raiva são todos contagiantes, mas é preciso que demos espaços para cada um, cada momento.

Por ser livre, nada é imposto a mim sem que eu permita primeiro.

Há beleza em tudo. Para mim, o melhor é encontrá-la. Essa é uma característica própria porém não muito incomum. Mas esse é um texto para mim.

Sem a pretensão de influenciar o dia de nenhuma pessoa, é um texto para eu lembrar do encanto que o céu azul de manhã bem cedo me causa. Da sensação agradável que tenho quando o vento gelado que acabou de fechar a madrugada molda em meu rosto, entrando pelos poros, despertando cada parte de mim aos poucos. O cheiro do primeiro pão do dia, quente, que revira meu estômago até então dormente, me lembrando da infância passada em padarias. As pessoas ainda zonzas tentando se adaptar ao ritmo frenético que seus carros, ou dos outros, já iniciaram.

Escrevo o momento para tentar não perdê-los. Escrevo esse texto para não permitir que o sono, o cansaço, façam com que eu perca esses detalhes da vida, cada dia diferentes. Detalhes que deixamos passar, acusando cada dia de ser igual e indo longe para buscar fugas da rotina, inutilmente.

Nós podemos rir, chorar ou ter raiva de tudo. Qualquer sentimento é contagiante. Não vou me esquecer de escolher o caminho mais fácil.

7 de julho de 2010

Mais uma, apenas

Minha alma é analógica,
em todos sentidos da palavra.
Valorizo o lápis e o papel
O relógio de ponteiro na parede da cozinha,
o toca cd's
Gosto do cheiro do livro, dos filmes antigos
das músicas passadas

Releio inutilmente
Releio, revejo, reouço
Realço
A mim mesma. E a quem se interessar.
Não vou muito além das notícias,
minha comunicação é completamete limitada
Talvez porque ela se volte para dentro
Apesar de inutilmente

Sou contra vc's, pq's,
OMG's e kd's
Valorizo o acento e a letra maiúscula
Limito em mim a praticidade e condeno a mutilação das palavras
Pela sanidades dos analógicos, mantenham-as intactas!

Minha essência é analógica,
nada lógica
repetitiva e aleatória
Me sinto muito mais confortável entre papéis e lápis,
cama e cobertor

Sou,
o mais importante é que sendo única sei que sou
Apenas mais uma dos últimos românticos

(Como eu já disse por aí em algum lugar, minha inspiração é sempre bem vinda de fora. Não, isso não é em todo mundo. Por isso, resolvi colocar, a partir de agora, da onde vem cada inspiração dessa. Cliquem aqui e inspirem-se comigo. =D )

26 de junho de 2010

Quebra, cabeça

Ver triste assim água minha alma
Eu sinto o que vem daí
Minha vontade é te acalentar, te por em meu colo, inverter os papéis
Porque em mim doeria até sempre
Eu não suportaria como você suporta,
Não conseguiria ficar vendo isso chegar.

A vida é uma coisa estranha. O tempo mata, literalmente. E isso nos faz sofrer aos poucos. É complicado quando tudo muda, é complicado saber que tudo vai mudar. Não saber aonde tudo vai dar ou se não vai dar em nada. Quando eu ando eu observo a vida como se eu observasse o tempo. Andar com meus irmãos e meus pais traz a mesma sensação de uma manhã de sábado chuvosa, em que você pode ficar na cama coberto e quente por quanto tempo quiser. E nem é pela superlotação. É porque nesses momentos, o quebra-cabeça da minha alma está completo. O objetivo de minha vida é manter esse quebra-cabeça completo sempre. Mas as coisas vão mudando de lugar. E é perigoso não querer que elas mudem. É tudo tão perfeito do jeito que está, que qualquer mudança assusta. O quebra-cabeça vai mudando de imagem. As peças vão ficando menores, mais difíceis de encaixarem. Permanecer perto é uma necessidade perigosa. E cada vez mais difícil. Eu não quero ver ninguém ir embora. Não quero ver nenhum quebra-cabeça desmontado. Não quero perder nenhuma peça do meu. Fica e acalenta aquele de quem eu preciso tanto.

...transborda

Não tenho a criatividade que surge do nada, que inventa. 
Reproduzo, uma reprodução egoísta. 
Capto e exploro. 
Faço para mim, porque me faz bem. 
E porque me faz falta.

Sei onde me encontro,
sei onde me acho
só não sei onde reencontro
Onde reacho o riacho
que se esconde, se desvia

Quando dá sinal,
a trilha fica mais vivian viva,
mas a água não se amarra
Não se controla
E a flora só espera pela chuva
Pelo tempo de cheia
Que quando vem,
ah, aí quando vem...

19 de junho de 2010

Ando sobre as linhas tortas que eu mesma desenho para mim.
E ,

Deus!
como são tortas...

14 de junho de 2010

Bolo Prestígio - da Bicicleta

Ela era branca. Ganhei quando morava em São Paulo.
Não vou descrever a sensação que tive ao ganhar a primeira bicicleta, simplesmente por que não me lembro. Uma monarck, ou será que era caloy? Lembro que era branca e de rodinhas. A da irmã era roxa. Igualzinha, como tudo que tínhamos, só que roxa.

Engraçado essas coisas de irmãos... Me lembro bem que tudo era sempre igual, só mudava a cor. Os óculos de sol: meu rosa, dela amarelo. Os sapatos de "festa": meu rosa, dela branco. Os vestidos de festa junina, a blusa de lã, a jaqueta de couro. Às vezes nem a cor mudava. E eu me perguntando porque que achavam que éramos gêmeas. Com os irmãos foi a mesma coisa. A diferença é que dessa vez um era branco e o outro moreno.

Voltando à bicicleta. Não sei se foi de natal, ou de aniversário, de dia das crianças, não dá pra saber. É difícil distinguir as datas de presente de criança porque em casa, o presente ou era pra um ou era pra nenhum. No aniversário de um, todo mundo ganhava presente. Se vinha dinheiro tinha que dividir, verdade. Mas ganhamos a bicicleta. E tenho poucas lembranças dela.

Lembro que foi no Quinta das Oliveiras. Depois eu passei a chamar de Quinto dos Infernos. Mas na época eu gostava de morar lá. Tinha muita criança e, como todo lugar com muita criança, muita perversidade. Atropelaram no estacionamento a rodinha da minha bicicleta. E lá andava eu, de uma roda só. Bicicleta cambeta. Decidiram tirar as rodinhas da minha bicicleta.

Se para mim é difícil lembrar sensações, eu me lembro muito bem do medo que eu estava de andar nela sem rodinha. E da vergonha, porque era a única que ainda usava. Já tinham tirado as da bicicleta roxa... Mas e se eu caísse? Na frente de todo mundo? Nunca mais ia andar de bicicleta, jurava pra mim.

Sei que tiraram as rodinhas. Não foi nem o pai, nem a mãe. Os meninos do condomínio. Os mais legais disseram que iam me segurar, que eu não ia cair.

O resto foi igual o de todo mundo. Me seguraram por um tempo e, lá estava eu, toda confiante nos que me seguravam, tagarelando sem saber que era sozinha. Olhei pra trás, ninguém. Só lá no fundo. Lá bem atrás. E eu, sete anos, sobre minha bicicleta branca, sem rodinhas.

O primeiro voo a gente nunca esquece.

A bicicleta ficou pra trás, assim como o Quinto dos Infernos e os meninos do prédio. A última lembrança que tenho dela é guardada no quarto de entulhos de uma casa que morei por muito tempo. Minha ideia era mandar restaurar e fazer dela um quadro de parede, daqueles estilosos.

Perdeu-se a ideia. Ganhou-se uma história.

10 de junho de 2010

Bolo prestígio - De São Paulo

A impressão que tenho às vezes é que a vida se divide em capítulos. Os meus, por enquanto, seriam *: de São Paulo (subdivididos em 'Do Tia Terê', 'do Cetec', 'da Torta de Morango' e 'do rocambole'), da Bicicleta, do Bolo Prestígio, do Quinta das Oliveiras, da Padaria 3V, da chácara do vovô, do Sigma, do Mont Serrat, da 'fase difícil', do Olho Vivo, do Ensino Médio e da faculdade, capítulo em construção.

Pouco, na verdade acho que nada, lembro da minha vida goiana antes de morar em São Paulo. Sei o que me contam. E, para mim, toda narrativa é tendenciosa. Por mim mesma, não consigo lembrar nada, por mais que viaje nas memórias. Fui morar em São Paulo ainda era de colo, se não me engano. E é de lá que tenho minhas primeiras lembranças. Lembranças essas que às vezes não sei (e às vezes sei) se são realmente lembranças, ou se são aquelas imagens que nos ficam na cabeça de tanto ouvir falar.



Do Tia Terê

Tia Terê é o primeiro colégio que me lembro de ter frequentado, apesar de me dizerem que eu tinha estado em outro antes. Não me lembro. Lembro do tia Terê. Me vem na memória o primeiro dia de aula, em que tantas crianças choravam, querendo o pai, a mãe, o irmão, sei lá. Não me lembro de chorar. O que lembro é que observava as crianças chorando e simplesmente não entendia. O que provavelmente é uma das muitas falhas da minha memória, porque desde que me entendo (ah! que pretensão!), choro por tudo. Mas nesse dia me lembro apenas de ficar observando aquela aguaceira nos olhos alheios. Dos filhos e dos pais, óbvio.

Descobri depois de um tempo que praticamente todos os alunos dessa escola eram japoneses. Não percebi isso enquanto estudava lá. Acho que crianças não devem fazer essas distinções.

Lembro também do bauru e do suco de caju que levava na lancheira todos os dias. A lancheira era rosa, da Barbie, em forma de coração ( =O ). Recordo que ela ficou dentro do ônibus e minha mãe saiu correndo pra tentar buscar. Não conseguiu. E eu ganhei uma lancheira sem graça, branca, em forma de lancheira.

Do Cetec

Quando saí do Tia Terê, fui estudar no Cetec. Ia fazer o pré. Foi a primeira separação da minha vida (não foi tã dramático assim), porque minha irmã fazia a primeira série, e era em outro prédio, que ficava em frente. Ela amou a idéia.
Tinha um prédio enorme no Cetec, feito com aqueles materiais que a gente quando é criança acha que é de água. É o mesmo material com que é feito a Universal, que fica na Avenida Goiás, aqui em Goiânia. Meu sonho era entrar naquele prédio (no do Cetec, não na Universal!). Diziam que lá eram feitas as aulas de natação, esportes. O que eu queria mesmo saber como que a água se mantinha em forma de prédio.

Fiquei apenas meio ano no Cetec, acho. Me lembro que quando meus pais decidiram voltar pra Goiânia, e nisso eu já tinha mais dois irmãos, um dia fiquei até mais tarde na escola. Meu pai tinha se atrasado por algum motivo e quando vi, estávamos apenas eu e a professora. Eu contei pra ela que iria mudar de São Paulo. O problema é que eu disse que iria sair do país. Foi quando ela me fez descobrir que Goiás ficava dentro do Brasil.

Da torta de Morango

Na verdade, era bolo de morango. Nem sei se o bolo era de morango. Não me lembro do gosto. Sei que a cobertura era todo em uma creme rosa, e acho também que tinha uns fiapinhos de coco por cima, não sei. Mas era linda. Acho que era de padaria e sempre que eu ia comemorar aniversário na escola, lá estava o bolo de morango. Eu amava comemorar os aniversários na escola. Triste era quando o aniversário dava no fim de semana. Legal era quando dava na sexta feira!!!

Do rocambole

Acho que era de chocolate. A mamãe chegava em casa da padaria com pães e aquele rocambole. Até hoje me dá água na boca. Nunca consegui achar outro igual. Mas também tenho a suspeita de que paladar de criança deturpa tudo que não é verde e não é cebola, claro, para o lado positivo.



Acabo de descobrir que é muito difícil dividir a vida em capítulos, eles se mesclam muito. Chega um momento em que não é possível colocá-los em ordem cronológica. Em ordem de importância. Parece que a vida, depois que os bolos e rocamboles vão virando apenas lembranças, se torna feita de tópicos. São recortes, soltos de um momento que a gente sabe que existiu, mas que é impossível lembrar. É um momento ou outro. Soltos, recortados. Pouco nítidos. Só não podemos perdê-los.

Como ainda espero viver muito e sei que muitos recortes virão, preciso começar a relembrar os antigos, para que não se percam por aí, nas memórias e fotos que não são minhas.

Vida longa a mim. Que venham mais capítulos!

* Tentei, mas logo desisti, colocá-los em ordem cronológica. Impossível.

28 de maio de 2010

Escassez



Tem sido difícil escrever.
As vezes as idéias até aparecem, mas a mente não flui.
Os pensamentos andam rasos demais.
As frases andam curtas. Sem conteúdo.
Tenho sentido falta de me por em palavras.
Me por em palavras me ajuda a me organizar.
Dizem que quem melhor vê o jogo é quem está de fora dele.
Quando me ponho em palavras, me torno observadora de mim mesma.
Da minha essência.

Minhas palavras tem estado sem essência.
Minha essência tem estado sem conteúdo.
Preciso me instigar, cavar eu mesma.
Descobrir uma forma de manter a profundidade em qualquer situação.

(Ser essência muito mais)

24 de maio de 2010

Anatomia

O sangue deve ser uma mistura de sentimentos. Os sentimentos feitos em matéria talvez. Porque quando a raiva sobe assim dentro de mim, eu sinto o sangue correndo como se fosse eu mesma, querendo extravasar toda essa agonia, mistura de dor, tristeza, fúria. As lágrimas pulam dos olhos como se fossem pedras, que eu mesma atiro de dentro de mim. Eu prendo a respiração só pra sentir a reação. O coração diminui por um momento. O organismo começa a ficar desesperado com a falta de ar. E eu começo a rir disso. Sim, às vezes eu acho que beiro a loucura. Rio e choro ao mesmo tempo. Imploro e ignoro. E as reações do meu corpo são cada dia mais interessantes.

Às vezes tenho a impressão que consigo sentir o sangue correndo, se espalhando pelas veias, indo e vindo do coração. Nos momentos de dor de cabeça mais acentuada, me distraio sentindo-o nas têmporas. Ou nos pulsos. Não alivia a dor, mas me distrai. Gosto quando os pés adormecem. Porque quando voltam consigo sentir o corpo se movimentando lá dentro. Toda reação do corpo é apreciável. Até nos momentos de maior dor. Nesses momentos, na verdade, que elas são mais intensas, elas são mais intrigantes. E instigantes.

Por isso, quando minha cabeça dói assim e meus olhos estão com essa textura seca que vem depois da água salgada em excesso, eu aprecio. Não que eu goste. Mas já que é inevitável, eu acho aonde me infiltrar, fisicamente dentro de mim mesma, talvez pra fugir da introspecção que realmente é assustadora. Aproveito pra sentir a vida que corre por baixo da pele, essa vida que pelo menos podemos tentar controlar.

13 de maio de 2010

Diálogos Interiores


- To meio sentimental hoje...
- E quando você não está?
- Ah, às vezes eu estou meio seca...
- Não, às vezes sua sentimentalidade está pouco aflorada. Seca, nunca.
- É, pode ser. Ando me confrontando muito. Existem vozes demais dentro de mim.
- Eu sou prova disso.
- Sinto falta do palco. Ando me imaginando muito nele, quando ouço as músicas mais inspiradoras, quando leio os livros. Não sei como vou me encontrar com isso de novo.
-Algo dentro de você diz que você vai.
- Será que estou acomodada demais? Será que preciso fazer alguma coisa louca pra mudar isso?
- Te falta coragem.
- Eu sei. Será que algum dia vou conseguir? Tenho a impressão de que busco coisas muito opostas com a mesma intensidade. Não sei se algum dia vou conciliar isso.
- ...
- Tenho certeza que é aí que está minha realização. Dentro de mim é tudo disperso demais. Preciso integralizar. Eu sei o que devo fazer, mas não sei como fazer. Na verdade, não sei se sei o que devo fazer.
- Você tem que esperar. Não é a espera acomodada, que vai aceitando o que vem e pronto. É a espera aliada de preparação.
- Você sempre tem as respostas né?
- Ha ha ha. Eu preciso ter. Para que mais serve uma voz interior do que pra inventar respostas?
- Mas será que elas são corretas? Será que realmente vai dar certo?
- Não sabemos. Mas o que mais podemos fazer, além de imaginar que vai?
-É, o que mais? Os planos são esboços. Não quero mais me sentir inútil pra mim mesma. Será que algum dia vamos nos tornar uma só?
-Eu sou só uma extensão. Dependo.

6 de maio de 2010

Vida Universitária

(Me divertindo um pouquinho...)

Sentada no chão
Caderno na mão
Tenis no pé
Dinheiro migué

A roupa surrada
A mente esgotada
Livros na mochila
Se senta cochila

Festeja, cerveja
Atenta, boceja
Estuda, faz prova
Estuda, reprova

Mal deita, clareia
As férias anseia
Na falta de um fim
Termina assim...



(Sobre o poema: Levemente inspirado nas experiências mais próximas e mais próprias.
Sobre a imagem: atendimento todos os dias exceto férias escolares. Quem precisa? \o/)

30 de abril de 2010

Coração de Pedra



- Estou triste hoje.
- Por quê?
- Besteiras...
- Não sei porque as pessoas não ligam pras besteiras.
- Eu ligo.
- É de besteiras que é feita a vida,são nelas que iniciam grandes momentos ou grandes decepções...
- E é de besteiras que a vida é desfeita.
(Ou as coisas bonitas dela...)

---------------------------------------------------------------------------------------------------

Eu não conheço a neve,
Eu não conheço o frio,
Mas conheço a tristeza de um coração vazio.
Ah, se esse coração fosse de pedra,
não sofreria tanto,
não amaria tanto.
Ah, eu quero um coração de pedra,
pra acabar com esse samba que com tristeza eu pranto.


(Incrível e nada proposital a contradição deste post com o último...)

27 de abril de 2010

O que me faz feliz


Não é incomum eu ficar analisando minha vida. Tudo aquilo que passou, o que anda acontecendo. E o medo daquilo que virá.

A incerteza é tão intimadante. Os planos, apenas esboços, eu consigo vizualizar só envoltos em uma neblina longínqua. E são vários esboços. Talvez isso seja o mais apavorante. Quando há um ideal só, uma coisa só pelo que correr atrás, mesmo que apenas se aproxime do esperado no final, deve ser mais fácil. Mas quando os esboços são muitos... é difícil escolher em qual mundo quero viver.

Mas quando me pego analisando minha vida, percebo que, de certa forma, meu passado e meu presente se fundem. O tempo ainda não deixou nenhuma divisão marcante demais. Não me tirou de casa, não me tirou ninguém, não me arrancou pedaços. Já me deu um ou outro peteleco, que no momento eu até achei que fosse um tapa na cara, mas depois percebi que era sim apenas um peteleco. Essa mania de projetar o que poderia ser, o que poderia acontecer, me faz às vezes perceber que o que senti não foi grão de areia.

Mas ainda assim, algumas mudanças simples vão mostrando-me que o relógio está correndo. Não precisar do pai pra ir comprar um tênis, da mãe pra fazer o lanche, pra ir experimentar o uniforme na escola, pra assinar a autorização do passeio. De vez em quando ainda me pego admirando os vestidos de festa junina nas lojinhas de bairro. Tudo isso é resquício de uma infância quase recente, ou talvez de uma memória boa mesmo.

Leite condensado com toddy depois do almoço, filme na tv nos fins de semana, abraço e selinho do irmão bem mais novo, beijo no rosto dos irmãos pouca coisa mais novos, abraço carinhoso e aconchegante do pai, risada e bochecha-boa-de-apertar da mãe, biquinho-de-peixe da vó, festinhas com a irmã (desde sempre), café com os amigos, cantoria com as partes de mim, cantorias, músicas para aproveitar os tempos de ócio ou de ônibus, livros repetidos porque eu gosto mesmo, marcopolo na piscina, bolo prestígio; pão,pipoca,cinema particular,café com (do) namorado, estravagâncias. Queta no meu canto com todo mundo dentro dele. É o que me faz feliz. Porque pode o tempo passar, pode me dar petelecos e até bofetadas, mas a alegria prevalece.

A alegria prevalece em mim, graças a quem prevalece em mim. Tudo só segue em frente porque meu universo se expande em cada um que eu amo e recebo de cada um o universo expandido.

Apenas obrigado.

(Só enquanto eu respirar...)

23 de abril de 2010

Riacho


Acho
Porque tudo em mim é apenas o que acho
E aquilo que encontro é aonde me encaixo

Sigo o tempo, sigo o curso,
vou seguindo meu riacho
Sendo o tempo pai malvado
levo às vezes um esculacho

E é pai, irmão, amigo
A família é como um cacho

Vou aprendendo e sigo firme
feito nega de despacho
Conseguido o que quero
Talvez um dia sossego o facho.

16 de abril de 2010

Acho

Sou dependente
De uma forma preocupante

De mim
dependo
de ti
Dependo do outro
de calor
de aconchego

Não gosto do meu uni(co)verso invadido
Quero uma personalidade incontestável
No entanto minha mente é esponja demais.

Gosto de mim
Não
gosto de algo em mim

Penso demais
com fundo demais
Em pensamentos, em sentimentos
Em tentar
-me
compreender

Parece que nasci para uma coisa - natural em mim,
só que escolhi outra - que exige um pouco demais

Procuro-me
Acho
não
me encontro

Devo ser quebra-cabeça com todas as peças,
D e s m o n t a d o
Dificil de achar a
Forma
Completa.

Hoje (nesse momento)
acho
que não é fácil ser eu.

(Poema de alguns meses atrás. Tinha publicado e depois tirei, não sei explicar o motivo. Mas acho que já é hora de republicá-lo. 'Entrou na chuva, molha'.)(A forma, pangaré, a forma...)

13 de abril de 2010

Divagações

Existe uma contradição tão grande entre aquilo que a gente quer, aquilo que a gente necessita e aquilo que a gente faz. Imagino que o objetivo da vida seja igualar os três.

(Ainda não consegui desenvolver mais que isso...)

10 de abril de 2010

Erro de interpretação

Esses dias fiquei sabendo de uma conversa mais ou menos assim:

" E: Numa escala de 0 a 10, quantos parafusos vocês acham que faltam na A. ?

A: Ihhhh, pode parar tá?? Não me falta nenhum não, eu tenho é sobrando! "

Conclusão: Estávamos vendo o 'problema' pelo ângulo errado.

(Eu juro que tentei achar parafusos roxos...)

7 de abril de 2010

Rompante (Dilacero)



Não me limite, não me enquadre.
Não me ponha em uma sala cinza.

Me deixe no vento, embaixo do céu azul.
Me deixe em baixo das árvores, me deixe em contato.

Me dê cores, me dê cantos de pássaros,

me dê flores, me dê momentos.
Liberte-me, assim eu fico.


Não me enquadre, não me limite.

Permita-me.

Me deixe viva.

1 de abril de 2010

Borboletas


Ser eu é cada dia mais intrigante

Acho um pouco de mim aqui e ali,
em uma palavra,
em um trecho,
em uma canção.

Perco um pouco de mim aqui e ali também,
em um livro,
uma piada,
uma discussão.

Vou me contruindo,
reconstruindo. Descobrindo.
Incrível (e espantoso)
como tem sido prazeroso.

(Da poesia terapêutica auto-avaliativa. Estão em casa, comentem sem pudor.)

29 de março de 2010

Herança

As tardes de sábado são o presente que compensa o resto da semana.
Faço um esforço enorme, puxo na memória, mas não consigo me lembrar como essa história começou. Na verdade, me esqueci de partes talvez relevantes dela. Estou, provavelmente, misturando duas ou mais histórias. Só ficou o que eu vi, não por coincidencia, as melhores partes.

"Filha, o que interessa é que o homem saiu por aí me enchendo de desaforo,cheio de covardia. E isso não é muito raro pra mim não, mas vindo desse homem eu não ia ficar queto. Já falei que não ia morrer sem matar um padeiro mesmo.

E tem um preto amigo meu ali na rua debaixo, homem bom, vive trabalhando, que tem uma moto velha lá. Toda vez que eu passo por ele lá embaixo vira uma gritaria besta um pro outro 'ÊêêÊeê, seu Antônio!' ' Ôôôôô Preto!'. HAHAHA!

Então eu fui filha. Coloquei o revolver no banco e fui pra furar o peito do sem vergonha. E tava naquela tensão né, aquela expectativa enquanto eu dirigia a camionete pra casa do desgramado. De repente ' Êêêêêêêêêêêêêôôôôôôôôôô Seu Toin!".

Tomei um susto desgraçado, a camionete ia pra esquerda, ia pra direita, o coração parecia que ia arrancar o peito fora. Era o preto passando na moto velha, não é que eu não vi?

' Que que foi sei Toin, assustei o senhor dessa vez?' 'Ahhh, vai embora, outra hora nóis conversa.'

Mas eu fiquei bambo de um tanto, de um tanto, que voltei pra casa. Na hora que eu cheguei, sua tia veio toda doida perguntando se eu tinha feito mesmo 'Fiz nada, sô! Eu é que quase morro de susto!'

Pois é filha, eu vi é que eu tinha minha parte de covarde também, que a gente acha que é muito corajoso, mas que no final das contas é mais covarde ainda. E imagina agora eu ia tá encrencado com isso aí, preso até. Tem hora né filha que um amigo salva mesmo a gente...

'Eu acho que é sempre, vô. Eu acho que é sempre.' "

(Porque todo mundo constrói o seu legado.)

Absorção

Minha mente é sinestésica.
Minha imaginação fértil demais.

O que eu ouço, eu vejo.
Histórias de cafeteria, histórias que não são minhas,
Eu vejo.
Não tenho culpa por invadir outros mundos assim,
eles que chegam a mim.
As dores tem cores, os causos tem cenários.
O contador é personagem na história que conta.

O que meu olhos fitam eu não vejo.
Só vejo o que ouço.
E o que fica em minha mente,
em minha cabeça perturbada,
é só o que foi visto.

Depois disso, não me arme com um lápis e um papel.

24 de março de 2010

Devaneios da aula de Micro 3





(Fugindo um pouco do estilo do blog...)

22 de março de 2010

Muito

A idéia da morte me apavora.

Só teme perder tudo quem tem muito a perder.
Muito que vale alguma coisa.
Perder uma parte de mim é perder muito. Muito.

Eu tento viver minha vida sem pensar nisso,
Aproveito cada segundo de cada tesouro que tenho
Vivo em um presente, literal e figurado.
Mas as vezes o medo toma conta de mim.

Não há nada em mim além daqueles que amo.
Perder uma parte de mim é perder tudo.

(Desculpem pela não diversão deste...)

16 de março de 2010

Mais valia

O orgulho do trabalhador é suicídio.
Enche a boca "Trabalho desde os doze anos."
Pra quê? Pra quem?

Trabalhemos apenas para nós.

15 de março de 2010

Anagrama

Poesia é um jogo de palavras
Um jogo de sentimentos

É trecho de sentimentos palavreado.

10 de março de 2010

Quem mexeu no meu poema? (Invasão)

É inaceitável você me invadir assim.
Essas palavras deviam ter sido escritas por mim.
Quem mexeu aqui dentro pra você?

(Para aquelas palavras que não fui eu quem escreveu. Para aquelas pessoas que as escreveram no meu lugar.)

8 de março de 2010

Teatro Mágico


Deslumbrada. Acho que essa é a palavra. Estou deslumbrada.

Hoje gostaria de não dormir, para não correr o risco de tudo ficar só na memória, tão pouco confiável e tão fantasiosa. São raras as vezes em que me sinto assim.

Tenho a mania de ir a apresentações musicais sabendo (ou pelo menos querendo saber) tudo do artista em questão. Dessa vez foi diferente. Pela simples distração de não estudar o repertório alheio a tempo, não conhecia muito. E me deslumbrei. Uma das coisas mais perfeitas que já vi, encantador, cativante, saboroso.

Assisti tudo com olhos de turista, sem vício. Pela primeira vez não esperei ansiosamente pela próxima música para ver se era alguma que eu conhecia ou que mais gostava. Coincidentemente, pela primeira vez minhas costas não protestaram pelas seguidas horas em pé. Dessa vez,minha garganta também não protestou contra os gritos que ela mesma produzia. Sem vício, me deslumbrei. Talvez pelo encanto do que é novo. Não interessa.

Hoje eu gostaria de não dormir. Gostaria de saborear esse dia, sem pausa. O teatro para mim sempre foi mágico mas a magia nunca foi assim tão tangível. Visível. Agora, eles são eternamente responsáveis por mim, só enquanto eu respirar.

(Hoje= 6/3/10. Não consegui não dormir.)

4 de março de 2010

Buscando

É, sei lá
É.
Não dá pra saber

(Poema a quatro mãos e duas mentes ociosas no trabalho...)

3 de março de 2010

Entrelivros (6)

"E mais, seu amor ao animal é um amor espontâneo, não é forçado por ninguém. (...) O amor entre o homem e o cão é idílico. É um amor sem conflitos, sem cenas dramáticas, sem evolução. Em torno de Tereza e de Tomas, Karenin traça o círculo de sua vida, baseada na repetição, esperando deles a mesma coisa.
Se Karenin fosse um ser humano e não um animal, certamente já teria dito a Tereza, há muito tempo: "Escuta, não acho graça de todos os dias ter que levar um croissant na boca. Não poderia descobrir uma brincadeira diferente?" Essa frase contém toda a condenação do homem. O tempo humano não gira em círculos, mas avança em linha reta. Por isso o homem não pode ser feliz, pois a felicidade é o desejo da repetição."

(A insustentável leveza do ser, again!)

Entrelivros (5)

"O romance não é uma confissão do autor, mas uma exploração do que é a vida humana, na armadilha em que se transformou o mundo."

(A insustentável Leveza do Ser)

Entrelivros (4)

"Ela (a vida humana) é composta como uma partitura musical. O ser humano, guiado pelo sentido da beleza, transpõe o acontecimento fortuito (uma música de Beethoven, a morte numa estação) para fazer disso um tema que, em seguida, fará parte da partitura da sua vida. Voltará ao tema, repetindo-o, modificando-o, desenvolvendo-o e transpondo-o, como faz um compositor com os temas de sua sonata. (...) O homem inconscientemente compõe sua vida segundo as leis da beleza mesmo nos instantes do mais profundo desespero.
O romance não pode, portanto, ser censurado por seu fascínio pelos encontros misteriosos dos acasos (...) mas podemos com razão, censurar o homem por ser cego a esses acasos na vida quotidiana, privando assim a vida da sua dimensão de beleza."

(A Insustentável Leveza do Ser)

Entrelivros (3)

"Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida se o primeiro ensaio da vida é a própria vida? É isso que faz com que a vida pareça sempre um esboço. (...) Tomas repete para si mesmo o provérbio alemão: einmal ist keinmal, uma vez não conta, uma vez é nunca. Não poder viver senão uma vida é como não viver nunca."

(Novamente, Milan Kundera, A insustentável Leveza do Ser.)

25 de fevereiro de 2010

Uma pequena pausa para um breve agradecimento...
10 SEGUIDORES! Eu queria mandar um beijo pro meu pai,pra minha mãe, pros meus amigos e especialmente pra você!

=D

Entrelivros (2)

"Digamos, portanto, que a idéia do eterno retorno designa uma perspectiva na qual as coisas não parecem ser como nós a conhecemos: elas nos aparecem sem a circunstancia atenuante de sua fugacidade.
Essa circunstância atenuante nos impede, com efeito, de pronunciar qualquer veredicto. Como condenar o que é efêmero? As nuvens alaranjadas do crepúsculo douram todas as coisas com o encanto da nostalgia, inclusive a guilhotina."

(Desconsiderando todo o complexo contexto, esse trecho me responde uma pergunta antiga: sim, a nostalgia do pôr do sol é universal. Ou quase.
Ahh, Milan Kundera, A insustentável leveza do ser )

Entrelivros Inaugural

" Desejava talvez confidenciar a alguém todas essas coisas. Mas explicar um inexplicável mal-estar, que muda de aspecto como as nuvens e que se move em turbilhão como o vento? Faltavam-lhe, pois, palavras, ocasião e coragem. "

[Inaugurando "Entrelivros", que surge com o objetivo de mostrar meus trechos
preferidos dos livros, que acabam se tornando também livros preferidos. Alguns desses trechos apenas me encantam. Com outros eu me identifico. Outros me encantam e fazem com que eu me identifique tanto que eu fico imaginando se (e por que) não fui eu mesma quem escrevi.
O trecho acima é o melhor (para mim, claro) de MADAME BOVARY, Gustave Flaubert. Sinto uma perfeita compaixão (de sentimento e não de sofrimento) pela Emma Bovary nesse momento. É desses que faço um sério esforço pra identificar se foi escrito por mim ou não. Jamais com a pretensão de me comparar com Flaubert, mas é inexplicável como em alguns momentos esse excerto me explica.]

Equilíbrio

Gosto da porta entreaberta
Por onde passa um fio de luz
Por onde passa um fio que liga meu mundo e o nosso.

Fechar a porta é quebrar a ligação.
Escancará-la é expor, demais.
O entreaberto em mim é o ponto.
Nosso encontro é no vão que fica.

19 de fevereiro de 2010

Haikai Moderno

Horário de Verão
Oito p.m, soool
Sete a.m, escuridão

(=D Porque esse horário me irrita, tirando a noção de tempo que é a única que eu arrisco dizer que tenho...)

12 de fevereiro de 2010

Para cantar

Atenção
À tensão!

Cantinho

- Preciso encontrar meu lugar no canto.
- Que canto?
- O canto. Há varios lugares no canto.
- Mas que canto?
- Justo. Que canto?

Desaba(fa)ndo

Ninguém me disse que seria fácil. Mas também não me avisaram que seria assim tão difícil. Já pensei em desistir algumas vezes, mesmo sabendo que jamais faria isso. A proposta às vezes é que é tentadora.

Me parece que a arte é fisicamente dolorosa. É de certa forma torturante e o tal do artista, masoquista. Estou tentando entender essa relação. É algo que não se tem escolha. É a única coisa que se sabe fazer direito, a única opção. Na verdade, a única coisa que se faz sentir vivo, útil. Mas às vezes a vontade é de largar tudo. Levar a vida para um lado diferente, menos complicado. Algo que se possa despir de vez em quando.

Eu me pergunto constantemente o que me faz levar isso adiante quando tudo em mim aponta pro lado contrário: o excesso de timidez, a falta de desenvoltura, a tensão, o apego. Eu me pergunto por quê eu simplesmente não deixo isso de lado e tento me encontrar em um campo que seja mais fácil. E é simplesmente porque eu não me encontro. Não acho o que me faça sentir mais viva.

Parece que eu nasci com algo faltando. Em mim veio só o desejo de ser, não vieram os meios. Eu leio sobre timbres suaves, bonitos, que encantam. Eu ouço, eu observo. Queria algum dia ler sobre mim, com palavras sinceras. Na verdade queria hoje ouvir palavras sinceras, queria eu mesma gostar.

Eu não sei se um dia isso vai se tornar mais fácil. Eu não sei se algum dia vou conseguir por em prática toda a teoria que eu absorvo tão facilmente. Não quero minha vida teórica. Não sei se vai se tornar constante, se vai ficar só a parte boa.

Eu sei que é algo do qual eu não consigo me livrar. Me parece agora que a relação entre artista e arte não é de amor. É de dependência. Faz-se arte pelo eu, não por ela. Mas a própria relação entre amor e dependência é muito tênue. O artista vejeta fora do palco por puro egoísmo. É ele quem precisa da arte e não o contrário.

Eu já me acostumei mesmo que não nasci com o dom de escolher as opções mais fáceis.

( -[...] A voz humana é ou não é o mais nobre dos instrumentos?
- É o mais nobre, sem dúvida.
- Portanto, deve ser o mais difícil. Os preguiçosos que vão para os diabos. [...]

Camilo Boito, "O professor de seticlávio". )

8 de fevereiro de 2010

Diálogo

É engraçado como as vezes alguém coloca em palavras aquilo que não conseguimos explicar.
E é mais engraçado ainda quando identificamos e nos perguntamos:
"Como isso não saiu de mim?"
Ingenuidade pensar que em um mundo tão antigo nossa sensação seja a primeira.
As histórias só se repetem.

(Os créditos são seus.)

4 de fevereiro de 2010

Oito, oitenta

Me parece que algumas coisas na minha vida ou são oito ou oitenta.

Pior que brasileira, sou goiana. Goiana acostumada com o sol do cerrado, que não é qualquer sol. Com o vento que sopra quente, queimando o rosto. Com o céu azul, tão azul e tão ensolarado que parece que a qualquer momento vai rachar o asfalto.
Sou goiana acostumada. Criada assim. Daquelas que as vezes reclama da estação única, mas que em uma semana de oito graus em Florianópolis já anseia pelo tal vento quente.

Sempre achei que gostasse mais do frio. Qualquer vento que alivia o calor, qualquer chuva mais longa que não evapora cinco minutos depois e deixa o tempo ainda mais quente. Maio, junho sempre foram épocas realmente esperadas. Até Florianópolis.

Viajei para o sul em julho. Queria ver de novo o mar que conheci na infância em São Paulo, ver tanta água que se esquece que existe ao viver no centro do país, queria sentir algo próximo do vento gelado de Ibiúna. Aproveitei para conhecer, de verdade, o frio. Que eu achei que tanto gostava.

A menor temperatura foi oito graus. Sensação térmica de três. Vento. Sol (que não rachava o asfalto). Brisa de mar, da Praia Mole, das pedras altas que circundam a ilha,das serras magníficas, inimagináveis no planalto central, no chapadão de Goiás. A areia era fria, gostosa nos pés mas diferente da areia da Juréia. A memória infantil porém me engana muito, talvez toda areia seja assim. Mas nesse dia de oito graus, Goiânia parecia o paraíso. Ansiava pelo vento quente que vem não se sabe de onde. Amaldiçoava todo e qualquer ar condicionado. A mudança nos ares à medida que subíamos no mapa era gritante e eu descobri que gosto mais do calor.

Hoje penso. Dez meses na Áustria. Pelo que dizem, cerca de noventa dias de sol de verdade. Florianópolis é Goiânia. Ou muito mais que isso. Eu sei do que vou sentir falta. Sei por quais motivos vou chorar no avião. Goiânia é mais quente para mim. É o calor das lembranças mais vívidas, da escola, dos amigos, dos primos, tios, pai, mãe. Irmãos. É o calor mais quente.

Algumas coisas na minha vida me parecem que são oito ou oitenta. Eu não nasci brasileira de Florianópolis. Minha viagem não é para a Europa quente.Nasci goiana, de trezentos e sessenta e cinco dias de sol rachando o asfalto. Do calor mais quente, repito. O frio agora acho que me apavora.

(Hipérboles, acalmem-se. Pelo menos por enquanto.)