21 de outubro de 2010

Anatomia



Adoro sentir meu coração querendo pular fora do peito.
Essa sensação que acontece quando vamos falar em público, apresentar uma peça, cantar uma música, sei lá.
Aliada daquela vontade louca de vomitar tudo o que não comeu pelo nervosismo. É bizarro. E tão bom. Parece que o peito realmente vai se rasgar, e o coração simplesmente vai sair por aí quicando.
É a prova mais fácil de sentir vida. O coração batendo forte, dá pra senti-lo na têmpora, nos pulsos, no pescoço. A cabeça fica zonza com a aceleração do sangue, as mãos começam a tremer.
Gostaria de conseguir sentir tão facilmente cada pedaço do meu corpo. Sentir de verdade, querendo sair fora.
O que será o coração? Será que é a alma que de alguma forma precisa se alojar? Será que é a vida, se mostrando presente? Será que é o amor, que vai se acumulando dentro do nosso corpo tão desconhecido e vai tomando forma?
Ainda quero poder sentir o sangue correndo pelas veias, o ar preenchendo os pulmões, saindo pelos poros e ressoando nos ossos, construindo os harmônicos mais perfeitos. Quero sentir as lágrimas subindo aos olhos, as cordas vocais vibrando. Só podemos ter sensações. Idéias mínimas.
O corpo é palco da alma. Que ela atue em cada célula que tenho.

(Texto antigo, que encontrei perdido aqui nos meus rascunhos... Normalmente esses são os que eu não gosto... Hoje eu gostei dele e achei que deveria postar.)

12 de outubro de 2010

Paciente

Paciência.
Paciência.
Paciência.
...

6 de outubro de 2010

Sobre a Alemanha

Pessoas do meu coração saudoso,

A viagem para Alemanha foi indefinível. É muito engraçado ver tantas coisas novas e diferentes e essas coisas que a gente só vê em livros aí no Brasil. As pessoas daqui não ficam tão impressionadas quanto nós, porque por mais que estejam em um país diferente, continuam no "velho mundo". Quando eu conto que minha cidade tem apenas 70 anos todos ficam impressionados... E enfim, o itinerário foi Munique, para conhecer a tão famosa Oktober Fest e depois Berlim. Fomos pegos de surpresa em várias situações, a primeira real experiência louca aqui.

Fomos em cinco, dois casais brasileiros e uma paraguaia. Existe um ticket na Áustria em que um grupo de 5 pessoas paga apenas 28 euros juntos para viajar todo o dia para qualquer lugar do país. Ou seja, cada um paga 5,60. Dessa maneira, nossa viagem ficaria muito mais barata, porque comprariamos esse ticket para ir até Salzburg, na Áustria, depois cruzaríamos a fronteira e compraríamos um ticket equivalente na Alemanha, que custava 37 euros e valia para todo o fim de semana. No final das contas saíria a ida até Munique por pouco mais de 15 euros e depois para Berlim por 7euros. O problema é que os trens que pegaríamos não iriam direto e demorariamos muito tempo a mais pra chegar até o destino final. Mas o trem direto sairia muito mais caro, então decidimos encarar o "pinga pinga" mesmo. 

Porém, quando estávamos ainda na estação de Graz, indo para Salzburg com um itinerário que demoraria 3 horas a mais que o normal, conhecemos o fiscal do trem, que validava os tickets, porém sem saber que ele era fiscal. Ele nos deu algumas informações e um pouco depois, quando já estavamos instalados, ele perguntou se poderia sentar-se perto de nós. O rapaz estudava espanhol e ficou muito feliz de poder treinar o idioma com nossa amiga paraguaia. Alguns minutos depois ele entrou em uma cabine e voltou nos dizendo que poderíamos pegar o trem que iria direto a Salzburg,fazendo com que economizássemos 3 horas de viagem e muitos euros. A única condição é que deveriamos sentar nos ultimos 5 vagões do trem, pois era onde certa amiga dele fiscalizava o ticket. Se fossemos pegos por outro fiscal, estaríamos meio enrascados. E lá fomos nós, pegar o trem direto. Quando já estavamos dentro dele que caiu a ficha da loucura que estavamos fazendo e deu medo de sermos chutados pra fora do tal trem. Mas com sorte tudo foi tranquilo e tudo que o rapaz havia dito era verdade. Assim, chegamos em salzburg 3 horas antes do planejado.

Mas isso não adiantou tanto assim as coisas, pois chegamos na cidade da fronteira pouco depois e tivemos que esperar por mais ou menos 5 horas, de madrugada, até o trem que seguiria pigando novamente para Munique. Conseguimos enfim chegar até Munique por volta das 7 da manhã.

Após algumas informações, fomos para a Oktober Fest.Estava chovendo e fazia muito frio. Estava bem cedo, então coseguiriamos entrar em alguma tenda. Eu já estava dentro de uma quando percebi que um dos nossos amigos fora barrado pelo fato de sua mochila ser muito grande. Então tivemos todos que voltar até a estação para encontrar um guarda-volume, onde deixamos as nossas mochilas. Quando voltamos novamente, não havia mais como entrar em nenhuma tenda. Tivemos que ficar andando pelas ruas da festa. Mais ou menos ao meio dia a chuva deu uma tregua e conseguimo um local bem estratégico, externo a tenda, EMBAIXO DE UM AQUECEDOR! Perfeito. Ficamos lá até termos que ir buscar as coisas no guarda-volumes. Voltamos de novo para a festa depois, mas já estvamos de saco cheio, pois as pessoas já estavam bebadas demais, algumas brigando e esbarrando muito, e a chuva voltou a incomodar. Decidimos ir embora por volta das 16 horas, embora nosso trem para Berlim saísse apenas as 20, acho.

Enfim, chegamos em Berlim por volta do meio dia do domingo e fomos direto para o hostel, todos loucos por um banho. No meio da viagem tivemos que ficar 5 horas em uma estação que não tinha absolutamente nada, numa cidade que devia ter 20 habitantes. O hostel era muito bom e foi bem barato, 13 euros por dia com café da manhã incluso. Tomamos banho, nos arrumamos e fomos direto para conhecer a cidade. Visitamos muitas coisas.

A primeira visita foi o muro de Berlim. Algo impressionante de se ver. Imaginar todas as coisas que ja se passaram por aquele lugar, toda a memória de filmes e livros vem a cabeça. Andar pela linha onde era o muro, ver hoje a cidade como é, tudo muito impressionante. A cidade estava extremamente fria, o pior frio que peguei até hoje por aqui. Fomos ainda ao museu de història da Alemanha, museu judaico, universidade Humbold, onde estudaram Marx, Einstein e os irmãos Grim, a catedral, as ruas e praças históricas, uma loja da Mercedes. O Portão de Brandemburgo e o Parlamento foram espetaculares, mesmo não podendo entrar no Parlamento, pq a fila estava muito grande. Mas o portão é algo impressionante de se ver, sentir, observar, não sei. Existem sensações inexplicáveis. 

No penúltimo dia visitamos o campo de concentraçao de Berlim. Foi a visita mais pesada. Não conseguia me sentir bem naquele lugar e não é pra querer fingir sensibilidade que digo isso. É uma visita que todas as pessoas devem fazer, é importante conhecer. Mas é preciso ter em mente que não é algo agradável, não é aquela visita que vc conta para as pessoas dizendo "OOOH, visitei o campo de concentração!". A atmosfera é diferente, talvez pelo pressuposto que já temos sobre tudo o que aconteceu e como as pessoas sofreram ali. E parece que nesse dia estava mais frio ainda, acredito que chegamos aos 5 graus, e ventava muito, o dia estava cinza e tinham muitos corvos voando pelo local. Era algo realmente sinistro e de escrever sobre isso eu já sinto o desconforto que senti lá, então vamos mudar de assunto.

Ficamos um dia a mais em Berlim, porque a melhor volta para Graz era na quarta feira as 14 horas, chegando em Graz na quinta as 19. Sim, muito tempo de viagem, mas o trem direto custaria mais de 80 euros e dessa maneira sairia por 28. Na quarta feira nos separamos. O Vinicius foi ao museu de instrumentos musicais, onde estava tendo uma exposição de guitarras e eu fui com os outros a um castelo que queriamos conhecer. No museu, o Vinicus pegou a rabeira de uma excursão de criancinhas, onde ele pode ver o guia do museu tocando quase todos os instrumentos. Muito legal. O castelo era esplendido, mesmo sem visitarmos o interior, pq não daria tempo de chegar na estação a tempo. Então visitamos só o jardim. Era um jardim fenomenal, onde havia  até cisnes, que por sinal quase nos atacaram. Haviam várias plumas no chão e nós decidimos pegar uma, mas as maiores e mais bonitas estavam perto dos animais (um casal de cisnes). É óbvio que não chegamos muito perto, mas já os estavamos olhando a varios minutos e eles não demonstravam nenhum incomodo. Uma das meninas arriscou chegar mais perto e eu vi quando os olhos do animal encontraram os meus. "Isso vai dar me***" Foi aí que o bicho soltou um grasnado, esticou aquele pescoço de borracha e abriu as asas. Disparamos a correr, todos morrendo de medo. Depois começamos a rir igual bobos e ainda perdi minha pena na viagem de volta...

Enfim, pegamos o trem de volta e tivemos que esperar por quase 8 horas na estação de Munique. Não compensava procurar um hostel pq a cidade estava lotada, devido a Oktober Fest. Só pensavamos em voltar para casa, o aconchego do conhecido, visto que o deslumbre pelo novo já estava se apagando. 

No final das contas, Berlim é uma cidade impressionante, mas acho dificil pensar que me adaptaria lá. Talvez pq a impressão mais forte que guardei foi a do campo de concentração, e esse sentimento de certa forma me impregnou. Mas um lugar meio cinza demais, duro demais, meio que tudo aquilo que nós aí pensamos dos alemães, apesar dos alemães em si serem muito solícitos. Descobri com essa viagem que Graz é uma cidade maravilhosa. Não, não errei, é de Graz mesmo que falei. Aqui não há medo de andar nas ruas, não há tantos resquícios de guerras e torturas. Descobri ainda que tudo é muito mais impressionante quando se está de fora. Nao sei se todos conseguirão me entender, mas estar aqui é, de certa forma, como estar em qualquer outro lugar. Lógico que tudo é relativamente diferente, mas não há tanto deslumbre quando você está dentro da história. De fora sempre parece mais legal. Além do mais, tudo sem vocês parece vazio. Não é tristeza, nem depressão, não se preocupem. Mas é um vazio inevitável, pq vcs simplesmente não estão aqui. Parece que sempre está faltando alguma coisa em todo lugar que eu vou. Os amigos novos são adoráveis, as pessoas da cidade são muito amáveis, mas não são vocês. Não há  a solidez que há com vocês, não ainda. Durante todo o tempo sentirei muita falta de todos, mas estou conseguindo lidar (é assim que escreve, pai?) com isso de uma maneira bem razoável. Estou seguindo todos os conselhos, acreditem. Prometo tentar cumprir todas as promessas. É estranho, mas posso sentir isso e aquilo mudando em mim, posso sentir que estou crescendo e prometo levar tudo que for bom. Estou com medo do inverno, de verdade. As vezes quero os 38 graus que vocês andam praguejando. Mas só as vezes. =)

Vocês são meu círculo quente, meu porto seguro. Só pq sei que vcs estão aí que eu posso ficar um pouquinho aqui.

Desculpe pela prolongação excessiva. Amo todos.

Vivi