25 de fevereiro de 2010

Uma pequena pausa para um breve agradecimento...
10 SEGUIDORES! Eu queria mandar um beijo pro meu pai,pra minha mãe, pros meus amigos e especialmente pra você!

=D

Entrelivros (2)

"Digamos, portanto, que a idéia do eterno retorno designa uma perspectiva na qual as coisas não parecem ser como nós a conhecemos: elas nos aparecem sem a circunstancia atenuante de sua fugacidade.
Essa circunstância atenuante nos impede, com efeito, de pronunciar qualquer veredicto. Como condenar o que é efêmero? As nuvens alaranjadas do crepúsculo douram todas as coisas com o encanto da nostalgia, inclusive a guilhotina."

(Desconsiderando todo o complexo contexto, esse trecho me responde uma pergunta antiga: sim, a nostalgia do pôr do sol é universal. Ou quase.
Ahh, Milan Kundera, A insustentável leveza do ser )

Entrelivros Inaugural

" Desejava talvez confidenciar a alguém todas essas coisas. Mas explicar um inexplicável mal-estar, que muda de aspecto como as nuvens e que se move em turbilhão como o vento? Faltavam-lhe, pois, palavras, ocasião e coragem. "

[Inaugurando "Entrelivros", que surge com o objetivo de mostrar meus trechos
preferidos dos livros, que acabam se tornando também livros preferidos. Alguns desses trechos apenas me encantam. Com outros eu me identifico. Outros me encantam e fazem com que eu me identifique tanto que eu fico imaginando se (e por que) não fui eu mesma quem escrevi.
O trecho acima é o melhor (para mim, claro) de MADAME BOVARY, Gustave Flaubert. Sinto uma perfeita compaixão (de sentimento e não de sofrimento) pela Emma Bovary nesse momento. É desses que faço um sério esforço pra identificar se foi escrito por mim ou não. Jamais com a pretensão de me comparar com Flaubert, mas é inexplicável como em alguns momentos esse excerto me explica.]

Equilíbrio

Gosto da porta entreaberta
Por onde passa um fio de luz
Por onde passa um fio que liga meu mundo e o nosso.

Fechar a porta é quebrar a ligação.
Escancará-la é expor, demais.
O entreaberto em mim é o ponto.
Nosso encontro é no vão que fica.

19 de fevereiro de 2010

Haikai Moderno

Horário de Verão
Oito p.m, soool
Sete a.m, escuridão

(=D Porque esse horário me irrita, tirando a noção de tempo que é a única que eu arrisco dizer que tenho...)

12 de fevereiro de 2010

Para cantar

Atenção
À tensão!

Cantinho

- Preciso encontrar meu lugar no canto.
- Que canto?
- O canto. Há varios lugares no canto.
- Mas que canto?
- Justo. Que canto?

Desaba(fa)ndo

Ninguém me disse que seria fácil. Mas também não me avisaram que seria assim tão difícil. Já pensei em desistir algumas vezes, mesmo sabendo que jamais faria isso. A proposta às vezes é que é tentadora.

Me parece que a arte é fisicamente dolorosa. É de certa forma torturante e o tal do artista, masoquista. Estou tentando entender essa relação. É algo que não se tem escolha. É a única coisa que se sabe fazer direito, a única opção. Na verdade, a única coisa que se faz sentir vivo, útil. Mas às vezes a vontade é de largar tudo. Levar a vida para um lado diferente, menos complicado. Algo que se possa despir de vez em quando.

Eu me pergunto constantemente o que me faz levar isso adiante quando tudo em mim aponta pro lado contrário: o excesso de timidez, a falta de desenvoltura, a tensão, o apego. Eu me pergunto por quê eu simplesmente não deixo isso de lado e tento me encontrar em um campo que seja mais fácil. E é simplesmente porque eu não me encontro. Não acho o que me faça sentir mais viva.

Parece que eu nasci com algo faltando. Em mim veio só o desejo de ser, não vieram os meios. Eu leio sobre timbres suaves, bonitos, que encantam. Eu ouço, eu observo. Queria algum dia ler sobre mim, com palavras sinceras. Na verdade queria hoje ouvir palavras sinceras, queria eu mesma gostar.

Eu não sei se um dia isso vai se tornar mais fácil. Eu não sei se algum dia vou conseguir por em prática toda a teoria que eu absorvo tão facilmente. Não quero minha vida teórica. Não sei se vai se tornar constante, se vai ficar só a parte boa.

Eu sei que é algo do qual eu não consigo me livrar. Me parece agora que a relação entre artista e arte não é de amor. É de dependência. Faz-se arte pelo eu, não por ela. Mas a própria relação entre amor e dependência é muito tênue. O artista vejeta fora do palco por puro egoísmo. É ele quem precisa da arte e não o contrário.

Eu já me acostumei mesmo que não nasci com o dom de escolher as opções mais fáceis.

( -[...] A voz humana é ou não é o mais nobre dos instrumentos?
- É o mais nobre, sem dúvida.
- Portanto, deve ser o mais difícil. Os preguiçosos que vão para os diabos. [...]

Camilo Boito, "O professor de seticlávio". )

8 de fevereiro de 2010

Diálogo

É engraçado como as vezes alguém coloca em palavras aquilo que não conseguimos explicar.
E é mais engraçado ainda quando identificamos e nos perguntamos:
"Como isso não saiu de mim?"
Ingenuidade pensar que em um mundo tão antigo nossa sensação seja a primeira.
As histórias só se repetem.

(Os créditos são seus.)

4 de fevereiro de 2010

Oito, oitenta

Me parece que algumas coisas na minha vida ou são oito ou oitenta.

Pior que brasileira, sou goiana. Goiana acostumada com o sol do cerrado, que não é qualquer sol. Com o vento que sopra quente, queimando o rosto. Com o céu azul, tão azul e tão ensolarado que parece que a qualquer momento vai rachar o asfalto.
Sou goiana acostumada. Criada assim. Daquelas que as vezes reclama da estação única, mas que em uma semana de oito graus em Florianópolis já anseia pelo tal vento quente.

Sempre achei que gostasse mais do frio. Qualquer vento que alivia o calor, qualquer chuva mais longa que não evapora cinco minutos depois e deixa o tempo ainda mais quente. Maio, junho sempre foram épocas realmente esperadas. Até Florianópolis.

Viajei para o sul em julho. Queria ver de novo o mar que conheci na infância em São Paulo, ver tanta água que se esquece que existe ao viver no centro do país, queria sentir algo próximo do vento gelado de Ibiúna. Aproveitei para conhecer, de verdade, o frio. Que eu achei que tanto gostava.

A menor temperatura foi oito graus. Sensação térmica de três. Vento. Sol (que não rachava o asfalto). Brisa de mar, da Praia Mole, das pedras altas que circundam a ilha,das serras magníficas, inimagináveis no planalto central, no chapadão de Goiás. A areia era fria, gostosa nos pés mas diferente da areia da Juréia. A memória infantil porém me engana muito, talvez toda areia seja assim. Mas nesse dia de oito graus, Goiânia parecia o paraíso. Ansiava pelo vento quente que vem não se sabe de onde. Amaldiçoava todo e qualquer ar condicionado. A mudança nos ares à medida que subíamos no mapa era gritante e eu descobri que gosto mais do calor.

Hoje penso. Dez meses na Áustria. Pelo que dizem, cerca de noventa dias de sol de verdade. Florianópolis é Goiânia. Ou muito mais que isso. Eu sei do que vou sentir falta. Sei por quais motivos vou chorar no avião. Goiânia é mais quente para mim. É o calor das lembranças mais vívidas, da escola, dos amigos, dos primos, tios, pai, mãe. Irmãos. É o calor mais quente.

Algumas coisas na minha vida me parecem que são oito ou oitenta. Eu não nasci brasileira de Florianópolis. Minha viagem não é para a Europa quente.Nasci goiana, de trezentos e sessenta e cinco dias de sol rachando o asfalto. Do calor mais quente, repito. O frio agora acho que me apavora.

(Hipérboles, acalmem-se. Pelo menos por enquanto.)

3 de fevereiro de 2010

Ponto de vista

Vendo o mundo
Cobro pouco, porque hoje ele é meu
E hoje é barato

Vendo o mundo,
ando vendo e enxergando o mundo
Barato e caro
À venda ou não

Depende (sempre) do que vejo.

1 de fevereiro de 2010

Amava
A mais não poder
Por isso fazia
Seu grão de poesia
E achava bonita
A palavra escrita
Por isso sofria
de melancolia
Sonhando o poeta
Que quem sabe um dia
Poderia ser

Vinicius de Moraes

(É comum eu me identificar com textos que não são meus. Mas não me lembro de ter visto algo que me retratasse tanto sem ter saído de mim.)