"Não quero mais saber do lirismo que não é libertação." Manuel Bandeira
30 de julho de 2011
Entre
28 de julho de 2011
Prisma
Escrever é sempre voltar os olhos para dentro.
É marcar compromisso comigo mesma e levar junto a coragem de manter
os mesmos olhos abertos
os mesmos olhos abertos
quando os fecho e olho para mim.
20 de julho de 2011
Reflexões despretensiosas sobre o tempo
Não sei se devemos considerar o tempo amigo ou carrasco.
O curso do tempo é independente da nossa vontade. O que depende de nós é fazer da nossa maneira e só.
Com o tempo, acho, só podemos andar lado a lado.
Usá-lo classificando-o ou praguejando-o acho que nos desvia de preenchê-lo com o melhor conteúdo.
(Resultante da leitura desse texto aqui e dos respectivos comentários.)
O curso do tempo é independente da nossa vontade. O que depende de nós é fazer da nossa maneira e só.
Com o tempo, acho, só podemos andar lado a lado.
Usá-lo classificando-o ou praguejando-o acho que nos desvia de preenchê-lo com o melhor conteúdo.
(Resultante da leitura desse texto aqui e dos respectivos comentários.)
14 de julho de 2011
As últimas quatro estações
Estar de volta exige repensar sobre tudo. Tudo mesmo. O que
passou, o que está por vir e, o mais intrigante, sobre o que se passa. Engraçado que o que mais fiz em todo esse
tempo que agora passou foi pensar. Sobre tudo. O que é bom, o que é ruim, o porquê
eu queria tanto voltar para cá e as coisas que me faziam querer ficar por lá.
Agora, estou dentro do jogo de novo, vendo como quem está por dentro, parcial e
facilmente afetável. Mas agora vejo com outros olhos, tais esses que eu nem sei
dizer por que são outros, provavelmente por estar dentro do jogo que sou eu. É
claro que alguns outros sabem dizer melhor do que eu por que esses olhos são
outros e só o sabem fazê-lo por estarem me vendo assim como eu os vi nos
últimos dez meses: de fora, de longe, apesar de sempre perto.
Essa idéia de que vê melhor o jogo aquele que está de fora
dele sempre serviu para me explicar muito, muito. Vejo mais, sinto mais quando
estou de fora. Aliás, imagino que vejo e que sinta da mesma maneira. Mas ao
estar dentro me torno parte de um todo e por isso distingo menos, apesar de
sentir do mesmo tanto. Deve ser isso.
Depois de dez meses parece que voltei sem ter passado uma
semana fora. É claro que aqueles que aqui ficaram que não foram bombardeados
por tudo diferente que eu fui e que não tinham o sentimento de falta amenizado
pelo sentimento de ânsia por tudo de novo que vem (sem nenhuma intenção de que
isso soe arrogante) irão ralhar comigo por dizer que pareceu pouco tempo. Não
confundam, não pareceu pouco tempo. Pareceu, na verdade, o tempo que durou, sem
nenhuma relatividade. Mas família acolhe-se como se nunca houvesse saído de
perto nenhuma parte de si. É a coisa da parte e do todo de novo, reabsorvendo
só, reacoplando. Por isso, não me pareceu ter estado longe mais que uma semana.
Era alertada constantemente sobre o crescimento acelerado do
Lucca. É óbvio que houve, mas ele continua me dando selinho, pedindo “beijo,
abraço, estica” e fazendo de tudo para que eu lhe faça cócegas até ele se
arrepender de ter pedido. Se a transição
complicada entre infância e adolescência não se fez dolorida, é prova clara de
que tudo que é meu permaneceu no lugar e eu me reintegrei sem estranhar um
segundo que fosse o lugar que é meu.
Não posso dizer o mesmo quanto ao espaço generalizado. A
cidade, as pessoas, os hábitos. Descobri que o impacto não é muito quando se
vai daqui até lá mas que o inverso é estranhamente perturbador. E perigoso,
porque corro sempre o risco de parecer que voltei arrogante e antibrasileira.
Antes fosse simples assim. O que posso (e quero) dizer agora é que a
necessidade de trabalhar para que as coisas melhorem é gritante e seria muito
fácil aceitar isso com uma postura eurocêntrica e me mudar definitivamente
assim que tivesse a primeira oportunidade.
Agora, como explicar essa pontinha de dor que sinto quando
penso nesse passado tão recente, quando vejo as fotos e relembro os momentos?
Eu penso em muitas respostas e acho que elas se somam para me dar a resposta
verdadeira. Uma delas é a diferença
entre a vida resolvida e a vida por resolver. Outra é a diferença de
facilidades (e dificuldades) de duas realidades diferentes. Mas provavelmente a
mais importante é também a mais óbvia. Aquela que já fora prevista desde as
primeiras percepções de afeto: a saudade jamais seria extinta por completo, ela
seria apenas mudada de direção. (Detalhe: assistindo jogo Brasil e Equador,
Galvão diz: “ótima enfiada de bola.” Lá ele.) Não preciso dizer muito sobre
isso. O engraçado é que do lado de lá, ninguém agüentava mais me ouvir falar de
histórias de irmãos, pai, mãe, colégio, amiga, boto. Agora, do lado de cá, tudo
tem um toque de dendê, de queijo coalho, de bolinho de bacalhau e de chimarrão. E também já
não agüentam mais me ouvir falar. Mas sempre, dos dois lados, escutam (e
escutaram) com paciência e até com interesse talvez, e com certeza com a
delicadeza de me deixar jorrar essas histórias que me fazem tão orgulhosa de
ser eu, parte desses todos que tem pelo menos a mim como ponto em comum.
Novamente, saudades que não cabem. Não fui feita com
capacidade suficiente para esse tanto de sentimento mas ele dá um jeito e se
aloja por aqui. Obrigado por fazerem minha vida alternar entre primavera cheia
de flores e verão cheio de sol, independente da estação.
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