"Não quero mais saber do lirismo que não é libertação." Manuel Bandeira
28 de maio de 2010
Escassez
Tem sido difícil escrever.
As vezes as idéias até aparecem, mas a mente não flui.
Os pensamentos andam rasos demais.
As frases andam curtas. Sem conteúdo.
Tenho sentido falta de me por em palavras.
Me por em palavras me ajuda a me organizar.
Dizem que quem melhor vê o jogo é quem está de fora dele.
Quando me ponho em palavras, me torno observadora de mim mesma.
Da minha essência.
Minhas palavras tem estado sem essência.
Minha essência tem estado sem conteúdo.
Preciso me instigar, cavar eu mesma.
Descobrir uma forma de manter a profundidade em qualquer situação.
(Ser essência muito mais)
24 de maio de 2010
Anatomia
Às vezes tenho a impressão que consigo sentir o sangue correndo, se espalhando pelas veias, indo e vindo do coração. Nos momentos de dor de cabeça mais acentuada, me distraio sentindo-o nas têmporas. Ou nos pulsos. Não alivia a dor, mas me distrai. Gosto quando os pés adormecem. Porque quando voltam consigo sentir o corpo se movimentando lá dentro. Toda reação do corpo é apreciável. Até nos momentos de maior dor. Nesses momentos, na verdade, que elas são mais intensas, elas são mais intrigantes. E instigantes.
Por isso, quando minha cabeça dói assim e meus olhos estão com essa textura seca que vem depois da água salgada em excesso, eu aprecio. Não que eu goste. Mas já que é inevitável, eu acho aonde me infiltrar, fisicamente dentro de mim mesma, talvez pra fugir da introspecção que realmente é assustadora. Aproveito pra sentir a vida que corre por baixo da pele, essa vida que pelo menos podemos tentar controlar.
13 de maio de 2010
Diálogos Interiores
- To meio sentimental hoje...
- E quando você não está?
- Ah, às vezes eu estou meio seca...
- Não, às vezes sua sentimentalidade está pouco aflorada. Seca, nunca.
- É, pode ser. Ando me confrontando muito. Existem vozes demais dentro de mim.
- Eu sou prova disso.
- Sinto falta do palco. Ando me imaginando muito nele, quando ouço as músicas mais inspiradoras, quando leio os livros. Não sei como vou me encontrar com isso de novo.
-Algo dentro de você diz que você vai.
- Será que estou acomodada demais? Será que preciso fazer alguma coisa louca pra mudar isso?
- Te falta coragem.
- Eu sei. Será que algum dia vou conseguir? Tenho a impressão de que busco coisas muito opostas com a mesma intensidade. Não sei se algum dia vou conciliar isso.
- ...
- Tenho certeza que é aí que está minha realização. Dentro de mim é tudo disperso demais. Preciso integralizar. Eu sei o que devo fazer, mas não sei como fazer. Na verdade, não sei se sei o que devo fazer.
- Você tem que esperar. Não é a espera acomodada, que vai aceitando o que vem e pronto. É a espera aliada de preparação.
- Você sempre tem as respostas né?
- Ha ha ha. Eu preciso ter. Para que mais serve uma voz interior do que pra inventar respostas?
- Mas será que elas são corretas? Será que realmente vai dar certo?
- Não sabemos. Mas o que mais podemos fazer, além de imaginar que vai?
-É, o que mais? Os planos são esboços. Não quero mais me sentir inútil pra mim mesma. Será que algum dia vamos nos tornar uma só?
-Eu sou só uma extensão. Dependo.
6 de maio de 2010
Vida Universitária
Sentada no chão
Caderno na mão
Tenis no pé
Dinheiro migué
A roupa surrada
A mente esgotada
Livros na mochila
Se senta cochila
Festeja, cerveja
Atenta, boceja
Estuda, faz prova
Estuda, reprova
Mal deita, clareia
As férias anseia
Na falta de um fim
Termina assim...
(Sobre o poema: Levemente inspirado nas experiências mais próximas e mais próprias.
Sobre a imagem: atendimento todos os dias exceto férias escolares. Quem precisa? \o/)