24 de maio de 2010

Anatomia

O sangue deve ser uma mistura de sentimentos. Os sentimentos feitos em matéria talvez. Porque quando a raiva sobe assim dentro de mim, eu sinto o sangue correndo como se fosse eu mesma, querendo extravasar toda essa agonia, mistura de dor, tristeza, fúria. As lágrimas pulam dos olhos como se fossem pedras, que eu mesma atiro de dentro de mim. Eu prendo a respiração só pra sentir a reação. O coração diminui por um momento. O organismo começa a ficar desesperado com a falta de ar. E eu começo a rir disso. Sim, às vezes eu acho que beiro a loucura. Rio e choro ao mesmo tempo. Imploro e ignoro. E as reações do meu corpo são cada dia mais interessantes.

Às vezes tenho a impressão que consigo sentir o sangue correndo, se espalhando pelas veias, indo e vindo do coração. Nos momentos de dor de cabeça mais acentuada, me distraio sentindo-o nas têmporas. Ou nos pulsos. Não alivia a dor, mas me distrai. Gosto quando os pés adormecem. Porque quando voltam consigo sentir o corpo se movimentando lá dentro. Toda reação do corpo é apreciável. Até nos momentos de maior dor. Nesses momentos, na verdade, que elas são mais intensas, elas são mais intrigantes. E instigantes.

Por isso, quando minha cabeça dói assim e meus olhos estão com essa textura seca que vem depois da água salgada em excesso, eu aprecio. Não que eu goste. Mas já que é inevitável, eu acho aonde me infiltrar, fisicamente dentro de mim mesma, talvez pra fugir da introspecção que realmente é assustadora. Aproveito pra sentir a vida que corre por baixo da pele, essa vida que pelo menos podemos tentar controlar.

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