12 de fevereiro de 2010

Desaba(fa)ndo

Ninguém me disse que seria fácil. Mas também não me avisaram que seria assim tão difícil. Já pensei em desistir algumas vezes, mesmo sabendo que jamais faria isso. A proposta às vezes é que é tentadora.

Me parece que a arte é fisicamente dolorosa. É de certa forma torturante e o tal do artista, masoquista. Estou tentando entender essa relação. É algo que não se tem escolha. É a única coisa que se sabe fazer direito, a única opção. Na verdade, a única coisa que se faz sentir vivo, útil. Mas às vezes a vontade é de largar tudo. Levar a vida para um lado diferente, menos complicado. Algo que se possa despir de vez em quando.

Eu me pergunto constantemente o que me faz levar isso adiante quando tudo em mim aponta pro lado contrário: o excesso de timidez, a falta de desenvoltura, a tensão, o apego. Eu me pergunto por quê eu simplesmente não deixo isso de lado e tento me encontrar em um campo que seja mais fácil. E é simplesmente porque eu não me encontro. Não acho o que me faça sentir mais viva.

Parece que eu nasci com algo faltando. Em mim veio só o desejo de ser, não vieram os meios. Eu leio sobre timbres suaves, bonitos, que encantam. Eu ouço, eu observo. Queria algum dia ler sobre mim, com palavras sinceras. Na verdade queria hoje ouvir palavras sinceras, queria eu mesma gostar.

Eu não sei se um dia isso vai se tornar mais fácil. Eu não sei se algum dia vou conseguir por em prática toda a teoria que eu absorvo tão facilmente. Não quero minha vida teórica. Não sei se vai se tornar constante, se vai ficar só a parte boa.

Eu sei que é algo do qual eu não consigo me livrar. Me parece agora que a relação entre artista e arte não é de amor. É de dependência. Faz-se arte pelo eu, não por ela. Mas a própria relação entre amor e dependência é muito tênue. O artista vejeta fora do palco por puro egoísmo. É ele quem precisa da arte e não o contrário.

Eu já me acostumei mesmo que não nasci com o dom de escolher as opções mais fáceis.

( -[...] A voz humana é ou não é o mais nobre dos instrumentos?
- É o mais nobre, sem dúvida.
- Portanto, deve ser o mais difícil. Os preguiçosos que vão para os diabos. [...]

Camilo Boito, "O professor de seticlávio". )

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