10 de junho de 2010

Bolo prestígio - De São Paulo

A impressão que tenho às vezes é que a vida se divide em capítulos. Os meus, por enquanto, seriam *: de São Paulo (subdivididos em 'Do Tia Terê', 'do Cetec', 'da Torta de Morango' e 'do rocambole'), da Bicicleta, do Bolo Prestígio, do Quinta das Oliveiras, da Padaria 3V, da chácara do vovô, do Sigma, do Mont Serrat, da 'fase difícil', do Olho Vivo, do Ensino Médio e da faculdade, capítulo em construção.

Pouco, na verdade acho que nada, lembro da minha vida goiana antes de morar em São Paulo. Sei o que me contam. E, para mim, toda narrativa é tendenciosa. Por mim mesma, não consigo lembrar nada, por mais que viaje nas memórias. Fui morar em São Paulo ainda era de colo, se não me engano. E é de lá que tenho minhas primeiras lembranças. Lembranças essas que às vezes não sei (e às vezes sei) se são realmente lembranças, ou se são aquelas imagens que nos ficam na cabeça de tanto ouvir falar.



Do Tia Terê

Tia Terê é o primeiro colégio que me lembro de ter frequentado, apesar de me dizerem que eu tinha estado em outro antes. Não me lembro. Lembro do tia Terê. Me vem na memória o primeiro dia de aula, em que tantas crianças choravam, querendo o pai, a mãe, o irmão, sei lá. Não me lembro de chorar. O que lembro é que observava as crianças chorando e simplesmente não entendia. O que provavelmente é uma das muitas falhas da minha memória, porque desde que me entendo (ah! que pretensão!), choro por tudo. Mas nesse dia me lembro apenas de ficar observando aquela aguaceira nos olhos alheios. Dos filhos e dos pais, óbvio.

Descobri depois de um tempo que praticamente todos os alunos dessa escola eram japoneses. Não percebi isso enquanto estudava lá. Acho que crianças não devem fazer essas distinções.

Lembro também do bauru e do suco de caju que levava na lancheira todos os dias. A lancheira era rosa, da Barbie, em forma de coração ( =O ). Recordo que ela ficou dentro do ônibus e minha mãe saiu correndo pra tentar buscar. Não conseguiu. E eu ganhei uma lancheira sem graça, branca, em forma de lancheira.

Do Cetec

Quando saí do Tia Terê, fui estudar no Cetec. Ia fazer o pré. Foi a primeira separação da minha vida (não foi tã dramático assim), porque minha irmã fazia a primeira série, e era em outro prédio, que ficava em frente. Ela amou a idéia.
Tinha um prédio enorme no Cetec, feito com aqueles materiais que a gente quando é criança acha que é de água. É o mesmo material com que é feito a Universal, que fica na Avenida Goiás, aqui em Goiânia. Meu sonho era entrar naquele prédio (no do Cetec, não na Universal!). Diziam que lá eram feitas as aulas de natação, esportes. O que eu queria mesmo saber como que a água se mantinha em forma de prédio.

Fiquei apenas meio ano no Cetec, acho. Me lembro que quando meus pais decidiram voltar pra Goiânia, e nisso eu já tinha mais dois irmãos, um dia fiquei até mais tarde na escola. Meu pai tinha se atrasado por algum motivo e quando vi, estávamos apenas eu e a professora. Eu contei pra ela que iria mudar de São Paulo. O problema é que eu disse que iria sair do país. Foi quando ela me fez descobrir que Goiás ficava dentro do Brasil.

Da torta de Morango

Na verdade, era bolo de morango. Nem sei se o bolo era de morango. Não me lembro do gosto. Sei que a cobertura era todo em uma creme rosa, e acho também que tinha uns fiapinhos de coco por cima, não sei. Mas era linda. Acho que era de padaria e sempre que eu ia comemorar aniversário na escola, lá estava o bolo de morango. Eu amava comemorar os aniversários na escola. Triste era quando o aniversário dava no fim de semana. Legal era quando dava na sexta feira!!!

Do rocambole

Acho que era de chocolate. A mamãe chegava em casa da padaria com pães e aquele rocambole. Até hoje me dá água na boca. Nunca consegui achar outro igual. Mas também tenho a suspeita de que paladar de criança deturpa tudo que não é verde e não é cebola, claro, para o lado positivo.



Acabo de descobrir que é muito difícil dividir a vida em capítulos, eles se mesclam muito. Chega um momento em que não é possível colocá-los em ordem cronológica. Em ordem de importância. Parece que a vida, depois que os bolos e rocamboles vão virando apenas lembranças, se torna feita de tópicos. São recortes, soltos de um momento que a gente sabe que existiu, mas que é impossível lembrar. É um momento ou outro. Soltos, recortados. Pouco nítidos. Só não podemos perdê-los.

Como ainda espero viver muito e sei que muitos recortes virão, preciso começar a relembrar os antigos, para que não se percam por aí, nas memórias e fotos que não são minhas.

Vida longa a mim. Que venham mais capítulos!

* Tentei, mas logo desisti, colocá-los em ordem cronológica. Impossível.

2 comentários:

  1. Quem não traz consigo pedaços avulsos de memória espalhados pelos cantos da mente, fiquei com muita inveja de ti por teres a paciência suficiente para organizá-los!

    Um abraço!

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  2. SNIFFFFFFFFFFFF!!! Essa memórias não são somente suas! Ameiiiii!! Terei um presente pra vc qnd voltar de São Paulo a próxima vez: rocambole da memória (sim, com o msmo gosto, eu sempre como quando vou lá!) Adorei o texto, queria ter tempo pra pensar textos assim, nas férias talvez...

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