18 de novembro de 2010

Sobre a saudade

Eu sempre quis mergulhar de cabeça nas mais loucas experiências. Sempre quis provar o sabor de meter a cara no desconhecido, no improvável, no incerto. Descobrir e experimentar todo tipo de sentimento pra ver como eu me comporto em cada um deles. A dor mais forte me faria mesmo mais forte? Como eu suportaria tudo?

Imagino que esse seja o sentimento mais tolo que exista. Essas coisas vem até nós, nós não precisamos buscá-las. Na verdade o que a maioria faz é correr delas. Mas o desconhecido é sempre tentador e, para uma pessoa tão bem protegida quanto aos males do mundo que só teve um pequeno contato com o "dilaceramento" do coração, isso parece chamativo. Burrice, tolice. Não é chamativo de tentador, e sim a mesma sensação que um herói feliz com todas suas conquistas teria se ouvisse falar de um novo monstro: como será que eu suportaria esse?
Saí de Goiânia com querendo entender como suportaria isso, como lidaria com essa nova realidade? Encontrei paz e equilíbrio no lugar novo. Encontrei uma liberdade que eu nunca tinha experimentado, apesar de nunca ter sido realmente dependente. Encontrei situações novas e problemas novos a serem resolvidos. Novos e em outra língua. Encontrei uma força que eu não sabia que tinha, que ia contra toda a "fraqueza" que eu sempre pensei de mim. Encontrei nos primeiros dias um pouco da agonia que alimentou o tal sentimento tão tolo. Encontrei a falta.

A falta do abraço do Lucca, do olhar puro e sem malícia, das reclamações tão sentidas e tão pertinentes aos 11 anos. A falta do abraço do Victor, do som eufórico da sua voz que curiosamente o seu violão repete, das explosões tão normais e tão preocupantes dos 17 anos. Falta do abraço do Vinicius e do beijo na bochecha, porque esse sempre acompanha o beijo na bochecha, da voz doce e aveludada, do sorriso puro e sem malícia que acompanha os olhos também, de (tentar) apaziguar as revoltas tão frequentes, até justificáveis, mas tão perigosas dos 16 anos. Falta da Aymê, do seu jeito eterno de criança, que ainda não sei se é algo perigoso ou uma qualidade incomum. Falta das gargalhadas da Ana, presentes em quase todas as conversas, tão independente da vontade dela mesma, das angústias tão constantes e tão doloridas, ainda mais agudas em uma formanda. Falta dos palavrões desculpados do boto, desnecessariamente, e dos momentos estragando grana, tão normais em qualquer idade. Falta do abraço do meu pai, e do seu olhar questionador, nos momentos em que para e fica me observando como se estivesse procurando algo dentro de mim, do seu abraço sempre cheiroso e carinhoso, com a barba por fazer provocando cócegas nos filhos; de encontrar seu carro esperando por mim depois que desço as escadas do prédio, falta do beijo de boa noite. Falta da minha mãe, do seu sorriso inocente e sapeca, das suas preocupações exageradas, do cafézinho fresco com bauru assim que acordo, da sua mão carinhosa no meu rosto que as vezes também parece procurar a menininha que ela viu crescer e que ela ajudou tão bem a proteger. Falta de ouvir suas orações de madrugada. Falta da Tatá, a quem eu aprendi a amar, não como uma tarefa, mas como cultivo de um sentimento que sabemos que só vai nos trazer alegrias.

Falta da Lílian. Da minha irmã de corpo e alma. Que eu escolhi e que eu deixei que passasse na minha frente pra nascer primeiro porque ela pediu, porque queria ser meu anjo mais velho. Porque ela sabe que eu faço tudo o que ela pedir pra mim, desde sempre, como deixá-la ir na faculdade com o papai no meu lugar ou no MC Donald's quando era minha vez. Ou cortar meu cabelo, que mal existia. Ela que sabe que eu vou reclamar o máximo que puder quando ela me pedir emprestada uma roupa nova que eu ainda não usei, mas que depois de tudo vou emprestar. Ela, a quem eu sempre tive tanta necessidade de me provar e tanta vontade de ser igual, porque tudo que vem dela exerce influência extrema em mim. E nós sabemos porque. Falta de chegar em casa e encontrá-la no computador ou tomando conta do sofá, e só de ver que estava ali eu me alegrava sem nem perceber.

Se alguém quiser saber quem eu sou, pergunte a essas pessoas. Elas podem lhes responder melhor do que eu. Elas têm em relação a mim uma visão completamente parcial, mas sem veneno.

E se alguém quiser saber quem são essas pessoas, mesmo que conheçam, perguntem a mim. Porque eu tenho uma visão completamente romântica, foi assim que elas me formaram. E cada um tem sua parcela de culpa no meu excesso de sentimentalismo. Pergunte a mim, porque eu posso dizer coisas que elas mesmas ignoram, coisas que só são vistas de fora. De longe. E às vezes de muito longe.

Estou aprendendo a controlar a saudade. Estou observando vocês de longe. Mas meu coração está aí e eu continuo compartilhando seus sentimentos. E talvez eu não possa fazer nada por eles, mas eu sou parte deles e talvez isso baste (ou pelo menos ajude) para consertar  o que está quebrado.

2 comentários:

  1. The spinning top
    made a sound
    like a train
    across the valley
    Fading
    oh so quiet
    but constant 'til it passed
    Over the ridge
    into the distances
    written on your ticket
    To remind you where to stop
    And when to get off



    Esses dias foram difíceis de acalmar a Saudade.

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  2. Sua filha da mãe! Vc escreve essas coisas pra eu me descontrolar! Morrer de chorar aqui! Que saudades!! Obrigada por um parágrafo inteiro, você é um amor e vindo de vc, isso é totalmente previsível! =***

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