15 de abril de 2011

Chuva

Graz, 6 de abril de 2011

Não costumo pensar muito em vocês. Mentira, eu penso em vocês o tempo todo. O que eu não costumo é pensar até o ponto em que começa a dor, até o ponto em que a distância deixa de ser abstrata e entra em mim me mostrando o quanto é longa, fazendo meu coração pequeno. Quanto mais dói menor fica, quase parando. Com dor, meu coração encolhe, some, com amor ele não cabe no meu peito.

Hoje foi a primeira vez que choveu de verdade aqui. Choveram pingos grossos, o céu ficou escuro, havia nuvens carregadas. A chuva fez subir, pela primeira vez, cheiro de terra molhada. Eu andava sozinha, escutando música. A temperatura estava agradável, um casaquinho de lã já quase me fazia calor. Era quase Goiânia, aqueles dias em que chove, chove e quando acaba eu saio de casa um pouquinho, só para sentir o vento fresco, molhado e o cheiro da terra. 

Era quase Hidrolândia, terra das águas, terra da terra, terra do cheiro de terra molhada que aparece depois da chuva que água o jardim bem cuidado. Nesses dias assim, fins de semana, eu costumo sair na área da frente e sentar no banco de cipó, esticar os pés para a mesinha de centro e respirar. Inspirar. Espirar.  Inspirar-me. O sol costuma sair depois que a água para. Daí os pássaros cantam. E o quadro é perfeito. Paz calma. Que rapidamente se transmuta para a paz mais turbulenta. E também mais paz. Sons, vozes que jamais conseguem ser comedidas, do mais novo querendo ir para a piscina, do moreno querendo conversar sobre coisas profundas, do Schumacher tocando e cantando tão escandalosamente como ele mesmo. E logo o olfato se desvia da terra molhada para o cafezinho da tarde, com misto da tostequeira e as conversas profundas que o moreno tanto queria. Ou o acompanhamento ao violão. Ou a piscina, minutos depois. Ou tantas outras coisas que, nesses momentos em que eu não consigo evitar a lembrança, que eu desisto de lutar e deixo vir tudo de uma vez, preparada para que meu coração diminua e quase suma, fazem com que ele cresça tanto, tanto , me surpreendendo, sufocando o bicho que teima em acordar bravo e feroz, transformando-o em companhia que faz a distância voltar a ser abstrata.

Onde estou tudo é lindo. Com sol se revela o lugar perfeito. Com chuva em abril se revela mais Goiânia. E eu posso dizer que estou satisfeita. Nem mais nem menos do que foi predito. Meu saldo é sempre positivo. Já disse antes que me ensinaram a ser feliz em todo lugar. E isso fez toda a diferença.

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