"Não quero mais saber do lirismo que não é libertação." Manuel Bandeira
6 de dezembro de 2010
Tempo
25 de novembro de 2010
Cinco
que enxerga-se melhor com óculos
que é mais fácil ter o cabelo da cor natural
que mudamos,
de casas e de jeitos.
Que não se perde o gosto por banho de chuva
que vemos pessoas indo e vindo,
e que algumas ficam, mesmo que de outra forma.
Que o amor é parcial.
Que o amor é irracional.
Que não adianta querer por em prática todos os conselhos,
se não estiver dentro de você.
Que às vezes férias são necessárias.
Que café na cama ofusca todas discussões.
Que café fresquinho é sinal de cuidado, de que alguém está ali.
Que é possível ensinar você a cozinhar, mesmo que você não admita.
Que o medo existe e envenena por inocência.
Que o desespero gera as discussões mais doloridas,
e as pazes mais verdadeiras.
Que consigo ensinar coisas boas,
mas que no fundo de mim existe muito receio de mudança.
Que a música pode unir e separar.
Mas tudo pode unir e separar.
Que precisamos fazer escolhas.
Que descobrimos da maneira mais difícil o que realmente tem importância.
Que nos enganamos quanto ao que queremos.
Que a alegria excessiva começa a passar despercebida.
Que os defeitos são latentes quando os temos perto. Quando longe, não existem mais.
Que a responsabilidade é pesada.
Que é possível viver sem você, mas que eu não quero.
Aprendi a esperar. Literalmente
Aprendi a maneira mais gostosa de dormir.
E também a melhor forma de acordar.
Aprendi a ouvir coisas boas,
mas também a respeitar as ruins que apesar de ruins eu gosto.
Que a maioria das discussões são cheias de argumentos inúteis,
que não levam a nada e que ainda assim insistimos nela.
Sabendo disso tudo.
Que o amor é irracional.
Aprendi que cabelos crescem.
Os meus e os seus.
Que cruzamos as faixas mais importantes.
Em cinco anos aprendi que as pessoas mudam.
Que os sentimentos mutam.
E que o que é essencial prevalece.
(AVPSECTMA)
18 de novembro de 2010
Sobre a saudade
Imagino que esse seja o sentimento mais tolo que exista. Essas coisas vem até nós, nós não precisamos buscá-las. Na verdade o que a maioria faz é correr delas. Mas o desconhecido é sempre tentador e, para uma pessoa tão bem protegida quanto aos males do mundo que só teve um pequeno contato com o "dilaceramento" do coração, isso parece chamativo. Burrice, tolice. Não é chamativo de tentador, e sim a mesma sensação que um herói feliz com todas suas conquistas teria se ouvisse falar de um novo monstro: como será que eu suportaria esse?
Saí de Goiânia com querendo entender como suportaria isso, como lidaria com essa nova realidade? Encontrei paz e equilíbrio no lugar novo. Encontrei uma liberdade que eu nunca tinha experimentado, apesar de nunca ter sido realmente dependente. Encontrei situações novas e problemas novos a serem resolvidos. Novos e em outra língua. Encontrei uma força que eu não sabia que tinha, que ia contra toda a "fraqueza" que eu sempre pensei de mim. Encontrei nos primeiros dias um pouco da agonia que alimentou o tal sentimento tão tolo. Encontrei a falta.
A falta do abraço do Lucca, do olhar puro e sem malícia, das reclamações tão sentidas e tão pertinentes aos 11 anos. A falta do abraço do Victor, do som eufórico da sua voz que curiosamente o seu violão repete, das explosões tão normais e tão preocupantes dos 17 anos. Falta do abraço do Vinicius e do beijo na bochecha, porque esse sempre acompanha o beijo na bochecha, da voz doce e aveludada, do sorriso puro e sem malícia que acompanha os olhos também, de (tentar) apaziguar as revoltas tão frequentes, até justificáveis, mas tão perigosas dos 16 anos. Falta da Aymê, do seu jeito eterno de criança, que ainda não sei se é algo perigoso ou uma qualidade incomum. Falta das gargalhadas da Ana, presentes em quase todas as conversas, tão independente da vontade dela mesma, das angústias tão constantes e tão doloridas, ainda mais agudas em uma formanda. Falta dos palavrões desculpados do boto, desnecessariamente, e dos momentos estragando grana, tão normais em qualquer idade. Falta do abraço do meu pai, e do seu olhar questionador, nos momentos em que para e fica me observando como se estivesse procurando algo dentro de mim, do seu abraço sempre cheiroso e carinhoso, com a barba por fazer provocando cócegas nos filhos; de encontrar seu carro esperando por mim depois que desço as escadas do prédio, falta do beijo de boa noite. Falta da minha mãe, do seu sorriso inocente e sapeca, das suas preocupações exageradas, do cafézinho fresco com bauru assim que acordo, da sua mão carinhosa no meu rosto que as vezes também parece procurar a menininha que ela viu crescer e que ela ajudou tão bem a proteger. Falta de ouvir suas orações de madrugada. Falta da Tatá, a quem eu aprendi a amar, não como uma tarefa, mas como cultivo de um sentimento que sabemos que só vai nos trazer alegrias.
Falta da Lílian. Da minha irmã de corpo e alma. Que eu escolhi e que eu deixei que passasse na minha frente pra nascer primeiro porque ela pediu, porque queria ser meu anjo mais velho. Porque ela sabe que eu faço tudo o que ela pedir pra mim, desde sempre, como deixá-la ir na faculdade com o papai no meu lugar ou no MC Donald's quando era minha vez. Ou cortar meu cabelo, que mal existia. Ela que sabe que eu vou reclamar o máximo que puder quando ela me pedir emprestada uma roupa nova que eu ainda não usei, mas que depois de tudo vou emprestar. Ela, a quem eu sempre tive tanta necessidade de me provar e tanta vontade de ser igual, porque tudo que vem dela exerce influência extrema em mim. E nós sabemos porque. Falta de chegar em casa e encontrá-la no computador ou tomando conta do sofá, e só de ver que estava ali eu me alegrava sem nem perceber.
Se alguém quiser saber quem eu sou, pergunte a essas pessoas. Elas podem lhes responder melhor do que eu. Elas têm em relação a mim uma visão completamente parcial, mas sem veneno.
E se alguém quiser saber quem são essas pessoas, mesmo que conheçam, perguntem a mim. Porque eu tenho uma visão completamente romântica, foi assim que elas me formaram. E cada um tem sua parcela de culpa no meu excesso de sentimentalismo. Pergunte a mim, porque eu posso dizer coisas que elas mesmas ignoram, coisas que só são vistas de fora. De longe. E às vezes de muito longe.
Estou aprendendo a controlar a saudade. Estou observando vocês de longe. Mas meu coração está aí e eu continuo compartilhando seus sentimentos. E talvez eu não possa fazer nada por eles, mas eu sou parte deles e talvez isso baste (ou pelo menos ajude) para consertar o que está quebrado.
21 de outubro de 2010
Anatomia
Adoro sentir meu coração querendo pular fora do peito.
12 de outubro de 2010
6 de outubro de 2010
Sobre a Alemanha
23 de setembro de 2010
Adaptação
11 de setembro de 2010
Áustria - sobre tudo inicialmente
Não tenho sabido muito bem o que pensar. Tenho feito como nos comerciais de refrigerante: vivido a vida intensamente. Acho. Devíamos fazer isso sempre.
Mas vamos tentar ser mais diretos. Graz é uma cidade linda. Talvez porque seja e primeiro contato real com um lugar tão antigo. Goiânia tem apenas 70 anos! Então ainda me encanto com esses castelos ao meu redor,os bancos situados em locais que há séculos atrás deviam ser mansões dos duques, duquesas, barões e outros níveis quaisquer. Me encanto com poder beber água da torneira, com ver as pessoas enchendo as garrafinhas de água nas fontes das praças. Me encanto com a biblioteca itinerante que coloca imensos pufes no meio das praças pra você deitar e ler o que quiser.
Do meu quarto eu posso ver o Schlossberg. É a paixão do pessoal da cidade, o símbolo da luta, da conquista. O que eu entendi a guia dizendo foi que, em alguma das muitas guerras européias, soldados franceses invadiram o Schlossberg e o estavam explodindo por dentro. Mas o castelo é tão grande e tão peculiarmente construído que tinha que ser explodido pouco de cada vez. E enquanto tentavam explodi-lo, o pessoal da cidade juntava dinheiro. Ate que conseguiram uma quantia
suficiente para convencer os soldados a deixarem o castelo. Não sei se foi exatamente isso, mas se não foi, criei uma bonita história.
Tudo aqui fazemos a pé. Andei de ônibus vez ou outra, mas tudo é tão perto que vai a pé mesmo. Para a faculdade, para os cafés, para os pontos turísticos, parques. Quase todo mundo tem uma bicicleta e existem ciclovias em todos os lugares. As bicicletas respeitam os semáforos e as faixas de pedestres. Aliás, há semáforos para pedestres, que precisam ser respeitados. Ninguem atravessa se o sinal não estiver verde, mesmo que não haja um carro sequer vindo.
Sobre as comidas
Estranho, mas em duas semanas ainda não consegui descobrir o que as pessoas aqui almoçam. Porque não é possível que a cidade passe todos os dias com sanduíche de carne empanada. Todo tipo de carne empanada:peru, porco, frango, peixe. E um sanduíche realmente grande.
Por isso, não há um dia sequer que eu não agradeça as vezes em que fiquei no pé do fogão vendo mamãe cozinhar e peguei um jeitinho ou outro. Obrigado mãe! Eu te amo.
Do que eu estou realmente sentindo falta? Feijão e sucos de verdade.Cheguei ao extremo do meu suco preferido ser o de laranja, de caixinha. Claro que é de caixinha. Até carne moída vem em caixinha. Mas laranja em caixinha é o que eu dizia detestar. Bem feito, sempre me ensinaram a não detestar nada.
E haja batatas! Praticamente todo prato em todo restaurante acompanha batatas e dois quilos de batata prontas pra fritar no supermercado custa 1,20 euro. Na verdade, não é caro comer aqui. Algumas coisas saem bem mais baratas que no Brasil, como o próprio arroz (que vem em caixinha) e o quilo custa 0,89 euro. Frutas e verduras são a mesma coisa (sim, estamos no mesmo planeta), só falta uma coisa ou outra e acrescenta-se mais uma ou outra diferente.
Sobre o alemão
Ninguém se preocupe, já aprendi as quatro palavras mais importantes: 'Ohne Zwiebel' e 'Leitung Wasser'. E 'bitte', claro. Sempre. 'Bitte' serve pra tudo. Não sabe o que dizer diga 'bitte'. Ohne Zwibel é importante sempre que vou comer fora e 'Leitung Wasser' para acompanhar a comida, opção realmente interessante e normalmente não cobrada.
Entre outras experiências, tentei pagar uma conta falando em português com a moça do caixa. Me pego falando em inglês com os brasileiros ( e sendo respondida em português!) E tive que me virar em alemão com uma vendedora chinesa porque as botas dela estavam realmente baratas.
Sobre as pessoas
Ok. Ninguém me catou para um abraço no meio da rua ainda. Mas os austríacos são realmente muito simpáticos e dispostos a ajudar. E fale com eles em alemão que ganha um sorriso a mais. Eles sorriem muito. Sim, ainda estamos no mesmo planeta.
Na faculdade então, a simpatia se multiplica.
Além disso, nunca tinha visto antes tantas pessoas de tantos lugares. Chineses, brasileiros, sérvios, finlandeses, espanhóis, egípcios, gregos, tchecos, lituânios, tudo numa coisa só. Se bobear, há mais estrangeiros que austríacos em Graz.
Ah, fale em alemão com os nativos que você até ganha um doce no ponto de ônibus. Experiência alheia.
Sobre os preços
Comer pode ser barato.
Roupas podem ser baratas. Com sorte.
Calçados podem ser baratos. Procurando.
Kebaps (sanduíche meio turco) são baratos.
Morar é caro.
Sobre a saudade
Ok. Próximo post ou ninguém lerá esse texto até o fim. Se é que alguém está lendo essa frase.
30 de agosto de 2010
E se nascessemos sabendo viver?
Ah, se nós nascessemos sabendo viver... Faríamos tantas coisas diferentes.
Somos tão pequenos diante de tudo. Pequenos, não insignificantes. E erramos tanto.
Milan Kundera diz na Insustentável Leveza do Ser "Como pode a vida ser bem vivida se o rascunho da vida é a própria vida?" Se tivéssemos tempo de ver a vida, como um rascunho e voltar concertando aqui e ali, desfazendo isso e aquilo, os medianos oitenta anos significariam mais.
Se nascessemos sabendo viver, provavelmente esvaziaríamos com um intervalo de tempo regular as nossas gavetas e guarda-roupas e os quartinhos de entulho. Nos desfaríamos daquilo que nao serve pra mais nada em nós, fazendo outras pessoas felizes. E abrindo espaço. Dentro e fora de nós. Porque, afinal, o que é isso que vivemos senão reflexo do que está na nossa mente? É necessário tirar o entulho, preencher com o que tem importância.
Se nascessemos sabendo viver, faríamos como naquela música: nos importaríamos menos com problemas pequenos, aceitaríamos as pessoas como elas são, acordaríamos mais cedo pra ver o sol nascer, sairíamos mais pra fora de casa pra ver o sol se por. Hoje eu acordei pensando nessa música. E uma coisa me deixou triste, nao sei se foi exatamente esse meu sentimento: o nome da música é epitáfio. E é triste pensar que só nos damos conta disso quando a vida já está no fim. Se nascessemos sabendo viver, nos daríamos conta disso antes de aprender a andar.
Seríamos mais delicados com as pessoas, com todas elas. Teríamos menos implicâncias. Superaríamos os defeitos tão mínimos dos outros, que irritam-nos tão fortemente apenas porque somos ignorantes quanto ao que é viver.
Se nascessemos sabendo viver, aos nossos catorze anos daríamos mais valor aos nossos pais e irmãos muito mais do que damos aos nossos coleguinhas, namoradinhos, ídolos da televisão. A sorte é que há tempo de vida sficiente para nós para percebermos isso e correr atrás de demonstrar o valor que não demos. O duro deve ser quando o tempo passa na frente.
Se nascessemos sabendo viver nos alimentaríamos bem por conta própria para não ter que nos privar de tudo depois. Escolheríamos desde o primeiro momento aquele trabalho que nos fizesse feliz e daí não trabalharíamos nunca. Só trabalharíamos para nós. Mas esse já é um terrenos muito complicado da nossa existencia que eu acho que ainda preciso viver muito pra conseguir entender. Porque o trabalho só me é justificável como justificativa para o futuro, mas o futuro é tão incerto que fica difícil pensar sobre isso. Mas acho, e nesse caso só acho, que se nascessemos sabendo viver, talvez o motivo da vida fosse mais o presente do que o futuro. E aí trabalharíamos no almoço pra viajar na hora da janta. Mas e o futuro? Meu futuro talvez responderá.
Seríamos menos egoístas. Trabalhariamos de voluntários em alguma coisa que fosse ajudar a melhorar alguma coisa. Acumularíamos menos.
Talvez se todas as pessoas que já viveram pudessem voltar no tempo e refazer algumas coisas, elas talvez derrubariam menos árvores, gastariam menos água, jogariam menos plástico nos rios, menos lixo na rua. Não deixariam a tarefa de recuperar tudo de uma vez para alguns de nós.
Se nascessemos sabendo viver, abraçaríamos mais os mais próximos de nós. Seríamos cordiais e simpáticos com aqueles que estão conosco todos os dias como somos com os convidados de uma festa. Não seríamos indelicados com o pai, nem com a mãe. Não por medo, ou respeito. Por educação mesmo, e amor. Se nascessemos sabendo viver, talvez teriamos desde o início o amor que nossos pais tem para conosco com os outros e viveríamos muito mais intensamente.
Ah, se nos fosse permitido fazer o tal rascunho da vida. Ah, se aprendessemos a aprender com os erros dos outros, talvez a vida não precisasse ser a melhor escola por ser a mais rígida.
Muitas horas dos vinte anos que tenho ( e dias e meses são formados por horas) joguei fora com raiva, apego a inutilidades, contemplação dos defeitos, lamentação sobre o leite derramado.
Porém, sou uma otimista convicta em uma época em que o mais legal é ser pessimista ao extremo. Acredito no melhor das pessoas e no melhor da vida e quero a partir daqui viver a música epitáfio antes que eu tenha que me preocupar com o meu. E quando vejo as pessoas desperdiçando o tempo,se são próximas tenho vontade de sacudi-las para que vivam mais. Já que não temos o rascunho do Kundera, o melhor é fazer o melhor esboço possível, como nas frases clichê das blusas de 8ª série.
Esse texto não tem mesmo nada de novo. E nem pretende ter. É completamente e desde o início repleto de clichês. Mas se a vida é uma repetição com perspectiva de melhora, o que é ela própria a não ser um clichê? Como tudo que de mais belo que há nela: o amor, a amizade, os momentos bonitos e as recordações emocionantes. Tudo clichê. Nada novo.
Talvez a vida seja a mesma coisa contada de várias formas diferentes.
Se nascessemos sabendo viver, viveríamos muito mais. Por que, afinal, de que interessam as outras coisas se temos uns aos outros?
16 de agosto de 2010
Bolo Prestígio - do Bolo Prestígio
Desculpem-me os de brigadeiro, abacaxi, coco, pêssego, morango e suas respectivas cozinheiras. Vocês são maravilhosos nos aniversários alheios. Mas meu aniversário não o é sem bolo prestígio.
Aquele da massa feita em casa, batendo a clara separadamente pra deixar o bolo mais airado. Essa que quando eu era pequena a mamãe ainda batia no garfo, e depois que a massa ficava pronta a briga era pela colher de pau e a panela. Aquele do qual o coco escorre de dentro e a cobertura é cremosa e quase negra, sem dó de chocolate.
Desde que
Lembro-me que já levei pra escola inúmeras vezes e vi crianças se estapearem. As professoras, sempre em regime, diziam que iam levar pra moça da cantina mas eu juro que sempre ralhavam comigo na cantina por eu não ter reservado um pedaço. E era impossível que, em casa, depois do parabéns, sobrasse uma migalhinha que fosse pro cachorro. Deve ter sido por isso que a Serena, uma fila que viveu conosco muitos anos, aproveitou-se uma vez de uma bobeada e virou a obra-prima prontinha, linda, perfeita no chão com uma patada. Ficou tudo pra ela. Cadela.
Dessa última vez, a mamãe fez um no dia do aniversário mesmo e um no dia da festinha, que foi dois dias depois. O primeiro estava deslumbrante. O segundo eu esqueci de levar pra festa.
Sim, eu esqueci de levar o bolo pra festa.
Eu queria voltar pra buscar, mas não quiseram me trazer. Não podem se queixar. Eu queria.
Agora, dá licença, deu uma fominha e eu vou pegar um pedacinho ali na geladeira, do bolo que, despropositamente, juro, eu esqueci de levar pra festa.
Bem feito
A culpa é toda minha.
11 de agosto de 2010
Bolo Prestígio - da Bicicleta 2
Certo dia, vésperas de natal, meu pai ia dirigindo sua kombi super adequada para um homem com seis filhos para sua casa, lá pros rumos de Hidrolândia. No meio da estrada vinha vindo uma família, uma mulher com não sei exatamente quantas crianças. Iam a pé, pelo acostamento da rodovia, um espetáculo de perigo nada incomum naquela região. E em muitas outras, admitamos.
Mas não irei me desviar por muito mais tempo. Assim como meu pai não desviou a atenção daquela família que se desviava dos carros e caminhões. Nesse dia, as duas bicicletas estavam no porta-malas da kombi e tinham acabado de serem restauradas. Meu irmão mais novo ainda era bem pequeno e provavelmente iria se divertir com pelo menos uma delas. Mas aquelas crianças da estrada iriam se deslumbrar com certeza muito mais.
Parou-se a kombi, desceram as bicicletas. Pode ser que tenha sido o primeiro presente de natal deslumbrante para as crianças. E para a mãe, porque o que nossos pais dizem é que não há alegria maior que ver um filho feliz.
Lembro-me que a minha idéia era a de restaurá-la e transformá-la em um quadro daqueles estilosos. Que disparate! Bicicletas não foram feitas para ficarem na parede e sim para dar vida aos sonhos da infância e nos darem nossos primeiros vôos.
A invenção de meu pai foi muito mais feliz!
("Um rei me disse que quem deixa ir tem pra sempre.")
10 de agosto de 2010
Vindo de fora!
Segredos dos Contos de Fadas
As fadas estão em contos sem razão
que para as donzelas traz a solução
e a ogros e feras dá apenas a prisão.
Que retiras de florestas as mais terríveis tragédias
Que de uma agulha tira um coma profundo
Para uma linda princesa
Tira uma bondosa fera
Que dá uma escrava a sete homenzinhos
Transforma em dragões passarinhos.
Contos superficialmente de fadas
Por trás disso existem verdades esmagadas.
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Desencanto
Chegou até a pedir a morte
o pobre príncipe, agora desencantado.
Sabia ele que mais uma flecha,
azul e vermelha,
seria seu fim.
Largou então a espada por hora,
e com uma pena grande
escreveu sua morte
Que não foi por flecha e sim por corte.
Conseguiu então caminhar tranquilo,
escondendo distante,
seu antigo e sofrido ex-comandante.
Quem sabe se um dia
chegará a mandante
que libertará seu ex-comandante.
29 de julho de 2010
Descartável (Pout porri poético)
Junto tudo e tento que dê um copo.
Consigo no máximo um daqueles de pinga. Ou uma xícara de café.
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Oh! Que triste.
Descobri que vivemos apenas fases, sempre iguais.
É uma afronta a minha originalidade,
da qual eu nunca tive muita certeza
e
agora duvido ainda mais.
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Que cheiro o hoje terá amanhã?
26 de julho de 2010
21 de julho de 2010
Entrelivros (7)
(Retalhos, Craig Thompson, uma graphic novel que vale muito a pena!)
14 de julho de 2010
Lembrete
Para quando eu começar meu dia de mau humor:
Nós podemos rir, chorar ou ter raiva de tudo. Só depende de qual sintonia nos ligamos cada dia. O bom humor, a tristeza e a raiva são todos contagiantes, mas é preciso que demos espaços para cada um, cada momento.
Por ser livre, nada é imposto a mim sem que eu permita primeiro.
Há beleza em tudo. Para mim, o melhor é encontrá-la. Essa é uma característica própria porém não muito incomum. Mas esse é um texto para mim.
Sem a pretensão de influenciar o dia de nenhuma pessoa, é um texto para eu lembrar do encanto que o céu azul de manhã bem cedo me causa. Da sensação agradável que tenho quando o vento gelado que acabou de fechar a madrugada molda em meu rosto, entrando pelos poros, despertando cada parte de mim aos poucos. O cheiro do primeiro pão do dia, quente, que revira meu estômago até então dormente, me lembrando da infância passada em padarias. As pessoas ainda zonzas tentando se adaptar ao ritmo frenético que seus carros, ou dos outros, já iniciaram.
Escrevo o momento para tentar não perdê-los. Escrevo esse texto para não permitir que o sono, o cansaço, façam com que eu perca esses detalhes da vida, cada dia diferentes. Detalhes que deixamos passar, acusando cada dia de ser igual e indo longe para buscar fugas da rotina, inutilmente.
Nós podemos rir, chorar ou ter raiva de tudo. Qualquer sentimento é contagiante. Não vou me esquecer de escolher o caminho mais fácil.
7 de julho de 2010
Mais uma, apenas
em todos sentidos da palavra.
Valorizo o lápis e o papel
O relógio de ponteiro na parede da cozinha,
o toca cd's
Gosto do cheiro do livro, dos filmes antigos
das músicas passadas
Releio inutilmente
Releio, revejo, reouço
Realço
A mim mesma. E a quem se interessar.
Não vou muito além das notícias,
minha comunicação é completamete limitada
Talvez porque ela se volte para dentro
Apesar de inutilmente
Sou contra vc's, pq's,
OMG's e kd's
Valorizo o acento e a letra maiúscula
Limito em mim a praticidade e condeno a mutilação das palavras
Pela sanidades dos analógicos, mantenham-as intactas!
Minha essência é analógica,
nada lógica
repetitiva e aleatória
Me sinto muito mais confortável entre papéis e lápis,
cama e cobertor
Sou,
o mais importante é que sendo única sei que sou
Apenas mais uma dos últimos românticos
(Como eu já disse por aí em algum lugar, minha inspiração é sempre bem vinda de fora. Não, isso não é em todo mundo. Por isso, resolvi colocar, a partir de agora, da onde vem cada inspiração dessa. Cliquem aqui e inspirem-se comigo. =D )
26 de junho de 2010
Quebra, cabeça
...transborda
19 de junho de 2010
14 de junho de 2010
Bolo Prestígio - da Bicicleta
10 de junho de 2010
Bolo prestígio - De São Paulo
28 de maio de 2010
Escassez
Tem sido difícil escrever.
As vezes as idéias até aparecem, mas a mente não flui.
Os pensamentos andam rasos demais.
As frases andam curtas. Sem conteúdo.
Tenho sentido falta de me por em palavras.
Me por em palavras me ajuda a me organizar.
Dizem que quem melhor vê o jogo é quem está de fora dele.
Quando me ponho em palavras, me torno observadora de mim mesma.
Da minha essência.
Minhas palavras tem estado sem essência.
Minha essência tem estado sem conteúdo.
Preciso me instigar, cavar eu mesma.
Descobrir uma forma de manter a profundidade em qualquer situação.
(Ser essência muito mais)
24 de maio de 2010
Anatomia
Às vezes tenho a impressão que consigo sentir o sangue correndo, se espalhando pelas veias, indo e vindo do coração. Nos momentos de dor de cabeça mais acentuada, me distraio sentindo-o nas têmporas. Ou nos pulsos. Não alivia a dor, mas me distrai. Gosto quando os pés adormecem. Porque quando voltam consigo sentir o corpo se movimentando lá dentro. Toda reação do corpo é apreciável. Até nos momentos de maior dor. Nesses momentos, na verdade, que elas são mais intensas, elas são mais intrigantes. E instigantes.
Por isso, quando minha cabeça dói assim e meus olhos estão com essa textura seca que vem depois da água salgada em excesso, eu aprecio. Não que eu goste. Mas já que é inevitável, eu acho aonde me infiltrar, fisicamente dentro de mim mesma, talvez pra fugir da introspecção que realmente é assustadora. Aproveito pra sentir a vida que corre por baixo da pele, essa vida que pelo menos podemos tentar controlar.
13 de maio de 2010
Diálogos Interiores
- To meio sentimental hoje...
- E quando você não está?
- Ah, às vezes eu estou meio seca...
- Não, às vezes sua sentimentalidade está pouco aflorada. Seca, nunca.
- É, pode ser. Ando me confrontando muito. Existem vozes demais dentro de mim.
- Eu sou prova disso.
- Sinto falta do palco. Ando me imaginando muito nele, quando ouço as músicas mais inspiradoras, quando leio os livros. Não sei como vou me encontrar com isso de novo.
-Algo dentro de você diz que você vai.
- Será que estou acomodada demais? Será que preciso fazer alguma coisa louca pra mudar isso?
- Te falta coragem.
- Eu sei. Será que algum dia vou conseguir? Tenho a impressão de que busco coisas muito opostas com a mesma intensidade. Não sei se algum dia vou conciliar isso.
- ...
- Tenho certeza que é aí que está minha realização. Dentro de mim é tudo disperso demais. Preciso integralizar. Eu sei o que devo fazer, mas não sei como fazer. Na verdade, não sei se sei o que devo fazer.
- Você tem que esperar. Não é a espera acomodada, que vai aceitando o que vem e pronto. É a espera aliada de preparação.
- Você sempre tem as respostas né?
- Ha ha ha. Eu preciso ter. Para que mais serve uma voz interior do que pra inventar respostas?
- Mas será que elas são corretas? Será que realmente vai dar certo?
- Não sabemos. Mas o que mais podemos fazer, além de imaginar que vai?
-É, o que mais? Os planos são esboços. Não quero mais me sentir inútil pra mim mesma. Será que algum dia vamos nos tornar uma só?
-Eu sou só uma extensão. Dependo.
6 de maio de 2010
Vida Universitária
Sentada no chão
Caderno na mão
Tenis no pé
Dinheiro migué
A roupa surrada
A mente esgotada
Livros na mochila
Se senta cochila
Festeja, cerveja
Atenta, boceja
Estuda, faz prova
Estuda, reprova
Mal deita, clareia
As férias anseia
Na falta de um fim
Termina assim...
(Sobre o poema: Levemente inspirado nas experiências mais próximas e mais próprias.
Sobre a imagem: atendimento todos os dias exceto férias escolares. Quem precisa? \o/)
30 de abril de 2010
Coração de Pedra
- Estou triste hoje.
- Por quê?
- Besteiras...
- Não sei porque as pessoas não ligam pras besteiras.
- Eu ligo.
- É de besteiras que é feita a vida,são nelas que iniciam grandes momentos ou grandes decepções...
- E é de besteiras que a vida é desfeita.
(Ou as coisas bonitas dela...)
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Eu não conheço a neve,
Eu não conheço o frio,
Mas conheço a tristeza de um coração vazio.
Ah, se esse coração fosse de pedra,
não sofreria tanto,
não amaria tanto.
Ah, eu quero um coração de pedra,
pra acabar com esse samba que com tristeza eu pranto.
(Incrível e nada proposital a contradição deste post com o último...)
27 de abril de 2010
O que me faz feliz
Não é incomum eu ficar analisando minha vida. Tudo aquilo que passou, o que anda acontecendo. E o medo daquilo que virá.
A incerteza é tão intimadante. Os planos, apenas esboços, eu consigo vizualizar só envoltos em uma neblina longínqua. E são vários esboços. Talvez isso seja o mais apavorante. Quando há um ideal só, uma coisa só pelo que correr atrás, mesmo que apenas se aproxime do esperado no final, deve ser mais fácil. Mas quando os esboços são muitos... é difícil escolher em qual mundo quero viver.
Mas quando me pego analisando minha vida, percebo que, de certa forma, meu passado e meu presente se fundem. O tempo ainda não deixou nenhuma divisão marcante demais. Não me tirou de casa, não me tirou ninguém, não me arrancou pedaços. Já me deu um ou outro peteleco, que no momento eu até achei que fosse um tapa na cara, mas depois percebi que era sim apenas um peteleco. Essa mania de projetar o que poderia ser, o que poderia acontecer, me faz às vezes perceber que o que senti não foi grão de areia.
Mas ainda assim, algumas mudanças simples vão mostrando-me que o relógio está correndo. Não precisar do pai pra ir comprar um tênis, da mãe pra fazer o lanche, pra ir experimentar o uniforme na escola, pra assinar a autorização do passeio. De vez em quando ainda me pego admirando os vestidos de festa junina nas lojinhas de bairro. Tudo isso é resquício de uma infância quase recente, ou talvez de uma memória boa mesmo.
Leite condensado com toddy depois do almoço, filme na tv nos fins de semana, abraço e selinho do irmão bem mais novo, beijo no rosto dos irmãos pouca coisa mais novos, abraço carinhoso e aconchegante do pai, risada e bochecha-boa-de-apertar da mãe, biquinho-de-peixe da vó, festinhas com a irmã (desde sempre), café com os amigos, cantoria com as partes de mim, cantorias, músicas para aproveitar os tempos de ócio ou de ônibus, livros repetidos porque eu gosto mesmo, marcopolo na piscina, bolo prestígio; pão,pipoca,cinema particular,café com (do) namorado, estravagâncias. Queta no meu canto com todo mundo dentro dele. É o que me faz feliz. Porque pode o tempo passar, pode me dar petelecos e até bofetadas, mas a alegria prevalece.
A alegria prevalece em mim, graças a quem prevalece em mim. Tudo só segue em frente porque meu universo se expande em cada um que eu amo e recebo de cada um o universo expandido.
Apenas obrigado.
(Só enquanto eu respirar...)
23 de abril de 2010
Riacho
Porque tudo em mim é apenas o que acho
E aquilo que encontro é aonde me encaixo
Sigo o tempo, sigo o curso,
vou seguindo meu riacho
Sendo o tempo pai malvado
levo às vezes um esculacho
E é pai, irmão, amigo
A família é como um cacho
Vou aprendendo e sigo firme
feito nega de despacho
Conseguido o que quero
Talvez um dia sossego o facho.
16 de abril de 2010
Acho
Sou dependente
De uma forma preocupante
De mim
dependo
de ti
Dependo do outro
de calor
de aconchego
Não gosto do meu uni(co)verso invadido
Quero uma personalidade incontestável
No entanto minha mente é esponja demais.
Gosto de mim
Não
gosto de algo em mim
Penso demais
com fundo demais
Em pensamentos, em sentimentos
Em tentar
-me
compreender
Parece que nasci para uma coisa - natural em mim,
só que escolhi outra - que exige um pouco demais
Procuro-me
Acho
não
me encontro
Devo ser quebra-cabeça com todas as peças,
D e s m o n t a d o
Dificil de achar a
Forma
Completa.
Hoje (nesse momento)
acho
que não é fácil ser eu.
(Poema de alguns meses atrás. Tinha publicado e depois tirei, não sei explicar o motivo. Mas acho que já é hora de republicá-lo. 'Entrou na chuva, molha'.)(A forma, pangaré, a forma...)
13 de abril de 2010
Divagações
(Ainda não consegui desenvolver mais que isso...)
10 de abril de 2010
Erro de interpretação
" E: Numa escala de 0 a 10, quantos parafusos vocês acham que faltam na A. ?
A: Ihhhh, pode parar tá?? Não me falta nenhum não, eu tenho é sobrando! "
Conclusão: Estávamos vendo o 'problema' pelo ângulo errado.
(Eu juro que tentei achar parafusos roxos...)
7 de abril de 2010
Rompante (Dilacero)
Não me limite, não me enquadre.
Não me ponha em uma sala cinza.
Me deixe no vento, embaixo do céu azul.
Me deixe em baixo das árvores, me deixe em contato.
Me dê cores, me dê cantos de pássaros,
me dê flores, me dê momentos.
Liberte-me, assim eu fico.
Não me enquadre, não me limite.
Permita-me.
Me deixe viva.
1 de abril de 2010
Borboletas
Ser eu é cada dia mais intrigante
Acho um pouco de mim aqui e ali,
em uma palavra,
em um trecho,
em uma canção.
Perco um pouco de mim aqui e ali também,
em um livro,
uma piada,
uma discussão.
Vou me contruindo,
reconstruindo. Descobrindo.
Incrível (e espantoso)
como tem sido prazeroso.
(Da poesia terapêutica auto-avaliativa. Estão em casa, comentem sem pudor.)
29 de março de 2010
Herança
Faço um esforço enorme, puxo na memória, mas não consigo me lembrar como essa história começou. Na verdade, me esqueci de partes talvez relevantes dela. Estou, provavelmente, misturando duas ou mais histórias. Só ficou o que eu vi, não por coincidencia, as melhores partes.
"Filha, o que interessa é que o homem saiu por aí me enchendo de desaforo,cheio de covardia. E isso não é muito raro pra mim não, mas vindo desse homem eu não ia ficar queto. Já falei que não ia morrer sem matar um padeiro mesmo.
E tem um preto amigo meu ali na rua debaixo, homem bom, vive trabalhando, que tem uma moto velha lá. Toda vez que eu passo por ele lá embaixo vira uma gritaria besta um pro outro 'ÊêêÊeê, seu Antônio!' ' Ôôôôô Preto!'. HAHAHA!
Então eu fui filha. Coloquei o revolver no banco e fui pra furar o peito do sem vergonha. E tava naquela tensão né, aquela expectativa enquanto eu dirigia a camionete pra casa do desgramado. De repente ' Êêêêêêêêêêêêêôôôôôôôôôô Seu Toin!".
Tomei um susto desgraçado, a camionete ia pra esquerda, ia pra direita, o coração parecia que ia arrancar o peito fora. Era o preto passando na moto velha, não é que eu não vi?
' Que que foi sei Toin, assustei o senhor dessa vez?' 'Ahhh, vai embora, outra hora nóis conversa.'
Mas eu fiquei bambo de um tanto, de um tanto, que voltei pra casa. Na hora que eu cheguei, sua tia veio toda doida perguntando se eu tinha feito mesmo 'Fiz nada, sô! Eu é que quase morro de susto!'
Pois é filha, eu vi é que eu tinha minha parte de covarde também, que a gente acha que é muito corajoso, mas que no final das contas é mais covarde ainda. E imagina agora eu ia tá encrencado com isso aí, preso até. Tem hora né filha que um amigo salva mesmo a gente...
'Eu acho que é sempre, vô. Eu acho que é sempre.' "
(Porque todo mundo constrói o seu legado.)
Absorção
Minha imaginação fértil demais.
O que eu ouço, eu vejo.
Histórias de cafeteria, histórias que não são minhas,
Eu vejo.
Não tenho culpa por invadir outros mundos assim,
eles que chegam a mim.
As dores tem cores, os causos tem cenários.
O contador é personagem na história que conta.
O que meu olhos fitam eu não vejo.
Só vejo o que ouço.
E o que fica em minha mente,
em minha cabeça perturbada,
é só o que foi visto.
Depois disso, não me arme com um lápis e um papel.
24 de março de 2010
22 de março de 2010
Muito
Só teme perder tudo quem tem muito a perder.
Muito que vale alguma coisa.
Perder uma parte de mim é perder muito. Muito.
Eu tento viver minha vida sem pensar nisso,
Aproveito cada segundo de cada tesouro que tenho
Vivo em um presente, literal e figurado.
Mas as vezes o medo toma conta de mim.
Não há nada em mim além daqueles que amo.
Perder uma parte de mim é perder tudo.
(Desculpem pela não diversão deste...)
16 de março de 2010
Mais valia
Enche a boca "Trabalho desde os doze anos."
Pra quê? Pra quem?
Trabalhemos apenas para nós.
15 de março de 2010
10 de março de 2010
Quem mexeu no meu poema? (Invasão)
Essas palavras deviam ter sido escritas por mim.
Quem mexeu aqui dentro pra você?
(Para aquelas palavras que não fui eu quem escreveu. Para aquelas pessoas que as escreveram no meu lugar.)
8 de março de 2010
Teatro Mágico
Deslumbrada. Acho que essa é a palavra. Estou deslumbrada.
Hoje gostaria de não dormir, para não correr o risco de tudo ficar só na memória, tão pouco confiável e tão fantasiosa. São raras as vezes em que me sinto assim.
Tenho a mania de ir a apresentações musicais sabendo (ou pelo menos querendo saber) tudo do artista em questão. Dessa vez foi diferente. Pela simples distração de não estudar o repertório alheio a tempo, não conhecia muito. E me deslumbrei. Uma das coisas mais perfeitas que já vi, encantador, cativante, saboroso.
Assisti tudo com olhos de turista, sem vício. Pela primeira vez não esperei ansiosamente pela próxima música para ver se era alguma que eu conhecia ou que mais gostava. Coincidentemente, pela primeira vez minhas costas não protestaram pelas seguidas horas em pé. Dessa vez,minha garganta também não protestou contra os gritos que ela mesma produzia. Sem vício, me deslumbrei. Talvez pelo encanto do que é novo. Não interessa.
Hoje eu gostaria de não dormir. Gostaria de saborear esse dia, sem pausa. O teatro para mim sempre foi mágico mas a magia nunca foi assim tão tangível. Visível. Agora, eles são eternamente responsáveis por mim, só enquanto eu respirar.
(Hoje= 6/3/10. Não consegui não dormir.)
4 de março de 2010
3 de março de 2010
Entrelivros (6)
Se Karenin fosse um ser humano e não um animal, certamente já teria dito a Tereza, há muito tempo: "Escuta, não acho graça de todos os dias ter que levar um croissant na boca. Não poderia descobrir uma brincadeira diferente?" Essa frase contém toda a condenação do homem. O tempo humano não gira em círculos, mas avança em linha reta. Por isso o homem não pode ser feliz, pois a felicidade é o desejo da repetição."
(A insustentável leveza do ser, again!)
Entrelivros (5)
(A insustentável Leveza do Ser)
Entrelivros (4)
O romance não pode, portanto, ser censurado por seu fascínio pelos encontros misteriosos dos acasos (...) mas podemos com razão, censurar o homem por ser cego a esses acasos na vida quotidiana, privando assim a vida da sua dimensão de beleza."
(A Insustentável Leveza do Ser)
Entrelivros (3)
(Novamente, Milan Kundera, A insustentável Leveza do Ser.)
25 de fevereiro de 2010
Entrelivros (2)
Essa circunstância atenuante nos impede, com efeito, de pronunciar qualquer veredicto. Como condenar o que é efêmero? As nuvens alaranjadas do crepúsculo douram todas as coisas com o encanto da nostalgia, inclusive a guilhotina."
(Desconsiderando todo o complexo contexto, esse trecho me responde uma pergunta antiga: sim, a nostalgia do pôr do sol é universal. Ou quase.
Ahh, Milan Kundera, A insustentável leveza do ser )
Entrelivros Inaugural
[Inaugurando "Entrelivros", que surge com o objetivo de mostrar meus trechos
preferidos dos livros, que acabam se tornando também livros preferidos. Alguns desses trechos apenas me encantam. Com outros eu me identifico. Outros me encantam e fazem com que eu me identifique tanto que eu fico imaginando se (e por que) não fui eu mesma quem escrevi.
O trecho acima é o melhor (para mim, claro) de MADAME BOVARY, Gustave Flaubert. Sinto uma perfeita compaixão (de sentimento e não de sofrimento) pela Emma Bovary nesse momento. É desses que faço um sério esforço pra identificar se foi escrito por mim ou não. Jamais com a pretensão de me comparar com Flaubert, mas é inexplicável como em alguns momentos esse excerto me explica.]